Tesouros secretos do Egito
Uma equipe de pesquisadores encontra no Egito uma série de relíquias ocultas há décadas
Kenneth Garrett
Um sarcófago de granito veio de um depósito do cemitério real de Saqqara, no Egito. A tampa, na qual foram entalhadas as feições de seu dono, encontra-se em excelentes condições
Todo o resplendor do Antigo Egito, tal como fora revelado pelas escavações do século 19, brilhou no Museu Egípcio no dia de sua inauguração, 15 de novembro de 1902. Desde então arqueólogos exumaram uma quantia muitas vezes maior de riquezas – imponentes estátuas, múmias enigmáticas e os adornos dourados de Tutankhamon. Grande parte desses objetos encontrou lugar nas galerias do museu, mas outros foram esquecidos em depósitos antes mesmo de ser estudados ou exibidos. Pensando neles, empreendi uma busca por todo o Museu Egípcio e por locais de armazenagem dispersos pelo país, com o objetivo de recolher material para a exposição aberta no mês passado. O resultado é um deslumbrante tributo a uma das maiores civilizações do mundo.
No auge do verão egípcio, minha equipe de curadores percorreu todo o país em duas semanas. Eles selecionaram artefatos desconhecidos que abrangem um período de 3 mil anos, desde os primeiros faraós até a época greco-romana. Enquanto isso, operários transformavam os porões do museu num espaço de exposições. O que antes era um labirinto de corredores empoeirados, cheios de caixotes fechados, tornou-se o cenário de uma aventura pelo glorioso passado do Egito.
Enquanto supervisionava o projeto, lembrei-me do episódio de uma estátua que sumira temporariamente durante a confusa coleta de objetos para o museu em 1902. Hoje esquemas de segurança impedem tais contratempos. Antes de entrar no depósito de cada escavação em Gizé, os curadores tinham de romper os lacres de chumbo marcados com o nome do último funcionário encarregado. As peças seguiam em comboios de caminhões, sob proteção armada, pelo caótico trânsito do Cairo, até alcançarem uma entrada de segurança nos fundos do museu. Em seguida, os curadores preparavam cada peça para que fosse exposta da melhor maneira.
Há muito desapareceram as pessoas que produziram esses artefatos. Seus túmulos foram cobertos pela areia, seus nomes estão perdidos para sempre. Mas o nosso museu irá preservar tudo aquilo que elas nos legaram.
Próxima
No auge do verão egípcio, minha equipe de curadores percorreu todo o país em duas semanas. Eles selecionaram artefatos desconhecidos que abrangem um período de 3 mil anos, desde os primeiros faraós até a época greco-romana. Enquanto isso, operários transformavam os porões do museu num espaço de exposições. O que antes era um labirinto de corredores empoeirados, cheios de caixotes fechados, tornou-se o cenário de uma aventura pelo glorioso passado do Egito.
Enquanto supervisionava o projeto, lembrei-me do episódio de uma estátua que sumira temporariamente durante a confusa coleta de objetos para o museu em 1902. Hoje esquemas de segurança impedem tais contratempos. Antes de entrar no depósito de cada escavação em Gizé, os curadores tinham de romper os lacres de chumbo marcados com o nome do último funcionário encarregado. As peças seguiam em comboios de caminhões, sob proteção armada, pelo caótico trânsito do Cairo, até alcançarem uma entrada de segurança nos fundos do museu. Em seguida, os curadores preparavam cada peça para que fosse exposta da melhor maneira.
Há muito desapareceram as pessoas que produziram esses artefatos. Seus túmulos foram cobertos pela areia, seus nomes estão perdidos para sempre. Mas o nosso museu irá preservar tudo aquilo que elas nos legaram.
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Um bracelete egípcio de ouro, da época de Cleópatra, exibe duas serpentes entrelaçadas, símbolos de proteção e regeneração.
Afinal, onde foi parar Cleópatra? Claro que ela continua por toda parte - com o seu nome imortalizado em caça-níqueis, jogos de tabuleiro, dançarinas eróticas e até mesmo em um projeto de monitoramento da poluição do mar Mediterrâneo. Também orbita ao redor do Sol, como o asteroide 216 Kleopatra. Seus "rituais de banho e modo de vida luxuriosos" são mencionados em propagandas de perfume. Mais: a mulher que foi o derradeiro faraó do Egito e costumava testar poções venenosas em prisioneiros está, em vez disso, envenenando os seus súditos como a marca de cigarros mais popular do Oriente Médio. § Em uma frase memorável de Harold Bloom, ela foi a "primeira celebridade do mundo". Se a história é um palco, nenhuma atriz foi tão versátil em seus papéis: filha, mãe e irmã de uma família que faria os mafiosos Sopranos, da série de TV, parecerem normais. Alvo de fantasias masculinas, Cleópatra tornou-se uma musa de fascínio inesgotável. A lista de obras sobre ela inclui 77 peças de teatro, 45 óperas e cinco balés. A rainha também é estrela de pelo menos sete filmes; a última dessas versões, ainda a ser filmada, será personificada em Hollywood por Angelina Jolie. E uma recente biografia, escrita por Stacy Schiff e já lançada no Brasil, rapidamente se tornou best-seller mundo afora.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Cleópatra é a figura à esquerda na parede de um templo em Dendera - esta é uma das raras imagens que trazem o seu nome. Ela é representada em suas funções de soberana, fazendo oferendas aos deuses. A seu lado está o filho que teve com Júlio César, reforçando a posição dele como herdeiro do trono. Após a morte da rainha, porém, ele foi executado.
Afinal, onde foi parar Cleópatra? Claro que ela continua por toda parte - com o seu nome imortalizado em caça-níqueis, jogos de tabuleiro, dançarinas eróticas e até mesmo em um projeto de monitoramento da poluição do mar Mediterrâneo. Também orbita ao redor do Sol, como o asteroide 216 Kleopatra. Seus "rituais de banho e modo de vida luxuriosos" são mencionados em propagandas de perfume. Mais: a mulher que foi o derradeiro faraó do Egito e costumava testar poções venenosas em prisioneiros está, em vez disso, envenenando os seus súditos como a marca de cigarros mais popular do Oriente Médio. § Em uma frase memorável de Harold Bloom, ela foi a "primeira celebridade do mundo". Se a história é um palco, nenhuma atriz foi tão versátil em seus papéis: filha, mãe e irmã de uma família que faria os mafiosos Sopranos, da série de TV, parecerem normais. Alvo de fantasias masculinas, Cleópatra tornou-se uma musa de fascínio inesgotável. A lista de obras sobre ela inclui 77 peças de teatro, 45 óperas e cinco balés. A rainha também é estrela de pelo menos sete filmes; a última dessas versões, ainda a ser filmada, será personificada em Hollywood por Angelina Jolie. E uma recente biografia, escrita por Stacy Schiff e já lançada no Brasil, rapidamente se tornou best-seller mundo afora.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Afinal, onde foi parar Cleópatra? Claro que ela continua por toda parte - com o seu nome imortalizado em caça-níqueis, jogos de tabuleiro, dançarinas eróticas e até mesmo em um projeto de monitoramento da poluição do mar Mediterrâneo. Também orbita ao redor do Sol, como o asteroide 216 Kleopatra. Seus "rituais de banho e modo de vida luxuriosos" são mencionados em propagandas de perfume. Mais: a mulher que foi o derradeiro faraó do Egito e costumava testar poções venenosas em prisioneiros está, em vez disso, envenenando os seus súditos como a marca de cigarros mais popular do Oriente Médio. § Em uma frase memorável de Harold Bloom, ela foi a "primeira celebridade do mundo". Se a história é um palco, nenhuma atriz foi tão versátil em seus papéis: filha, mãe e irmã de uma família que faria os mafiosos Sopranos, da série de TV, parecerem normais. Alvo de fantasias masculinas, Cleópatra tornou-se uma musa de fascínio inesgotável. A lista de obras sobre ela inclui 77 peças de teatro, 45 óperas e cinco balés. A rainha também é estrela de pelo menos sete filmes; a última dessas versões, ainda a ser filmada, será personificada em Hollywood por Angelina Jolie. E uma recente biografia, escrita por Stacy Schiff e já lançada no Brasil, rapidamente se tornou best-seller mundo afora.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
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Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Este busto de mármore com a faixa de cabeça que simboliza a realeza pode representar Cleópatra e talvez tenha sido esculpido quando ela visitou Roma. Traços como a curva do nariz se parecem com os das efígies oficiais em moedas. Autores da Antiguidade afirmam que Cleópatra cativava a todos com sua inteligência. Dois homens poderosos se apaixonaram por ela - o imperador Júlio César e o general Marco Antônio.
Afinal, onde foi parar Cleópatra? Claro que ela continua por toda parte - com o seu nome imortalizado em caça-níqueis, jogos de tabuleiro, dançarinas eróticas e até mesmo em um projeto de monitoramento da poluição do mar Mediterrâneo. Também orbita ao redor do Sol, como o asteroide 216 Kleopatra. Seus "rituais de banho e modo de vida luxuriosos" são mencionados em propagandas de perfume. Mais: a mulher que foi o derradeiro faraó do Egito e costumava testar poções venenosas em prisioneiros está, em vez disso, envenenando os seus súditos como a marca de cigarros mais popular do Oriente Médio. § Em uma frase memorável de Harold Bloom, ela foi a "primeira celebridade do mundo". Se a história é um palco, nenhuma atriz foi tão versátil em seus papéis: filha, mãe e irmã de uma família que faria os mafiosos Sopranos, da série de TV, parecerem normais. Alvo de fantasias masculinas, Cleópatra tornou-se uma musa de fascínio inesgotável. A lista de obras sobre ela inclui 77 peças de teatro, 45 óperas e cinco balés. A rainha também é estrela de pelo menos sete filmes; a última dessas versões, ainda a ser filmada, será personificada em Hollywood por Angelina Jolie. E uma recente biografia, escrita por Stacy Schiff e já lançada no Brasil, rapidamente se tornou best-seller mundo afora.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
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O perfil de Ptolomeu I, que fundou a última dinastia faraônica do Egito, em 304 a.C., aparece de uma dos lados de uma moeda de ouro recuperada das ruínas submersas de Herakleion, um centro de comércio na antiguidade. Alexandre o Grande, o rei macedônico que conquistou o Egito em 332 a.C., aparece aqui do outro lado, em pé sobre uma carruagem puxada por quatro elefantes. Em sua mão direita, segura raios.
Afinal, onde foi parar Cleópatra? Claro que ela continua por toda parte - com o seu nome imortalizado em caça-níqueis, jogos de tabuleiro, dançarinas eróticas e até mesmo em um projeto de monitoramento da poluição do mar Mediterrâneo. Também orbita ao redor do Sol, como o asteroide 216 Kleopatra. Seus "rituais de banho e modo de vida luxuriosos" são mencionados em propagandas de perfume. Mais: a mulher que foi o derradeiro faraó do Egito e costumava testar poções venenosas em prisioneiros está, em vez disso, envenenando os seus súditos como a marca de cigarros mais popular do Oriente Médio. § Em uma frase memorável de Harold Bloom, ela foi a "primeira celebridade do mundo". Se a história é um palco, nenhuma atriz foi tão versátil em seus papéis: filha, mãe e irmã de uma família que faria os mafiosos Sopranos, da série de TV, parecerem normais. Alvo de fantasias masculinas, Cleópatra tornou-se uma musa de fascínio inesgotável. A lista de obras sobre ela inclui 77 peças de teatro, 45 óperas e cinco balés. A rainha também é estrela de pelo menos sete filmes; a última dessas versões, ainda a ser filmada, será personificada em Hollywood por Angelina Jolie. E uma recente biografia, escrita por Stacy Schiff e já lançada no Brasil, rapidamente se tornou best-seller mundo afora.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
O Nilo exótico da época de Cleópatra ressurge no mosaico em um piso na cidade de Palestrina, na Itália. Originando-se na Etiópia, no alto, o rio passa por templos faraônicos e greco-egípcios, serpenteia pelo delta e deságua no que deve ser o porto de Alexandria, no canto inferior direito.
Afinal, onde foi parar Cleópatra? Claro que ela continua por toda parte - com o seu nome imortalizado em caça-níqueis, jogos de tabuleiro, dançarinas eróticas e até mesmo em um projeto de monitoramento da poluição do mar Mediterrâneo. Também orbita ao redor do Sol, como o asteroide 216 Kleopatra. Seus "rituais de banho e modo de vida luxuriosos" são mencionados em propagandas de perfume. Mais: a mulher que foi o derradeiro faraó do Egito e costumava testar poções venenosas em prisioneiros está, em vez disso, envenenando os seus súditos como a marca de cigarros mais popular do Oriente Médio. § Em uma frase memorável de Harold Bloom, ela foi a "primeira celebridade do mundo". Se a história é um palco, nenhuma atriz foi tão versátil em seus papéis: filha, mãe e irmã de uma família que faria os mafiosos Sopranos, da série de TV, parecerem normais. Alvo de fantasias masculinas, Cleópatra tornou-se uma musa de fascínio inesgotável. A lista de obras sobre ela inclui 77 peças de teatro, 45 óperas e cinco balés. A rainha também é estrela de pelo menos sete filmes; a última dessas versões, ainda a ser filmada, será personificada em Hollywood por Angelina Jolie. E uma recente biografia, escrita por Stacy Schiff e já lançada no Brasil, rapidamente se tornou best-seller mundo afora.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.
Contudo, mesmo que esteja por toda parte, Cleópatra também não se encontra em lugar nenhum. Apesar de seu pretenso poder de sedução, não temos nenhuma representação confiável de suas feições. Os raros semblantes dela que chegaram até nós se baseiam em pouco lisonjeiras efígies de moedas. Há ainda um obscuro relevo de 6 metros de altura em um dos templos de Dendera e, nos museus, alguns bustos de mármore, cuja maioria talvez nem seja dela.
Os historiadores da Antiguidade preferiram exaltar o carisma de Cleópatra, e não sua beleza. Não resta dúvida, porém, de que ela foi capaz de despertar a paixão de dois romanos poderosos: Júlio César, com quem teve um filho, e Marco Antônio, que foi seu amante por mais de uma década e com quem teve três filhos. No entanto, a beleza dela, segundo o historiador grego Plutarco, não era "tal que deslumbrasse aqueles que a vissem; mas sua conversa era cativante, e sua figura, ajudada pela graça e pela vivacidade no trato, parecia cravar um aguilhão no espírito. Quando falava, o som de sua voz era adocicado, e com facilidade modulava a língua, como se fosse um instrumento melodioso".
Até hoje, muitos se perguntam sobre o local da sepultura de Cleópatra, desde que foi vista pela última vez no mausoléu - de acordo com o lendário relato de sua morte -, ataviada com o diadema e os ornamentos régios e reclinada no que Plutarco descreveu como um leito dourado. Após o assassinato de César, o herdeiro deste, Otaviano, digladiou-se com Marco Antônio pelo controle do Império Romano por mais de uma década e, em seguida à derrota de Marco Antônio e Cleópatra na Batalha de Ácio, as tropas de Otaviano tomaram Alexandria no verão do ano 30 a.C. Cleópatra refugiou-se atrás das maciças portas de seu mausoléu, em meio a pilhas de ouro, prata, pérolas, objetos de arte e outros tesouros que ela jurou queimar a fim de que não caíssem nas mãos dos inimigos.
Agonizando com os golpes de espada que infligira a si mesmo, Marco Antônio foi levado a esse mausoléu no dia 1o de agosto para que tomasse uma última taça de vinho e expirasse nos braços de Cleópatra. Possivelmente foi ali que, cerca de dez dias após a morte de Marco Antônio, a própria Cleópatra, aos 39 anos de idade, esquivou-se à humilhação da derrota e do cativeiro, suicidando-se com a picada de uma víbora venenosa. Segundo o historiador romano Dion Cássio, o corpo de Cleópatra foi embalsamado, tal como o de Marco Antônio. Plutarco comentou que, por ordem de Otaviano, a última rainha do Egito fosse sepultada ao lado de seu derrotado consorte romano. Dezesseis séculos depois, Shakespeare proclamou: "Nenhuma sepultura jamais encerrará/um par tão famoso".
Hoje, contudo, não fazemos a menor ideia de onde poderia estar essa sepultura. Alexandria e a área circundante atraíram menos interesse que os sítios arqueológicos mais antigos ao longo do Nilo, como as pirâmides de Gizé ou os monumentos de Luxor. E isso é compreensível: terremotos, ondas de maré, elevação no nível do mar, afundamento no terreno, guerras e a pragmática reciclagem do material de construção acabaram destruindo a antiga região litorânea em que Cleópatra e seus antepassados viveram durante três séculos. Quase todos os resquícios gloriosos da antiga Alexandria estão atualmente 6 metros abaixo da superfície do mar.
Nas últimas décadas, porém, os arqueólogos passaram afinal a se dedicar ao enigma do destino de Cleópatra e a buscar o local de seu sepultamento. Escavações subaquáticas iniciadas em 1992 pelo explorador francês Franck Goddio e seu Instituto Europeu de Arqueologia Submarina permitiram que os pesquisadores mapeassem as áreas inundadas da antiga Alexandria, seus quebra-mares e esplanadas, e o solo submerso antes ocupado pelos palácios reais. Os achados trazidos à superfície - maciças esfinges de pedra, gigantescos blocos de calcário usados em pavimentos, colunas e capitéis de granito - estão despertando o apetite por uma melhor compreensão do mundo de Cleópatra. "Meu maior sonho é encontrar uma estátua - com um cartucho indicando que se trata de Cleópatra", avisa Goddio. Até agora, as buscas submarinas ainda não revelaram nenhuma sepultura.
Nos últimos tempos, os pesquisadores seguem novas pistas: um templo no deserto perto de Alexandria tornou-se o foco de outra busca, de¬sen¬cadeada pela ideia de que uma rainha tão cal¬culista e previdente quanto Cleópatra talvez tivesse mandado construir sua tumba em um local mais significativo em termos espirituais que o centro de Alexandria - ou seja, em um lugar no qual seus restos mumificados pudessem descansar em paz ao lado do amado Marco Antônio.


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