quarta-feira, 26 de março de 2014

Os Santos que Andavam - Mistérios do Vale.




      Segundo os caiçaras mais antigos da cidade de Caraguatatuba, por lá, Santo Antônio e São Benedito gostavam de caminhar. Numa dessas charmosas vilas, à hora que os pescadores dormem, pois suas madrugadas passam muito rápidas e o mar chama para a labuta, Santo Antônio e São Benedito descem de seus altares e saem a peregrinar.
     O povo sabia das caminhadas dos santos, pois as devotas que lhes limpavam, deixavam o altar sempre bem disposto, e não é que virava e mexia, elas encontravam os pés deles cheios de areia? Mas ninguém fazia conta, achava era muita graça. Só que a festa durou pouco, quando chegou novo sacerdote na vila, as histórias dos passeadores logo lhe alcançaram os ouvidos. O padre que benzia, com água benta a mula que lhe servia, não pensou nem uma vez. Mandou pegar os dois santinhos e tacou fogo.
    Enquanto o fogo consumia os pobrezinhos dos santinhos, o padre foi enlouquecendo, corria e pulava pela rua sem que ninguém pudesse segurar. O homem nunca mais ficou são, tiveram que levar embora. Dos santos que gostavam de caminhar só sobraram as histórias.
 
pinitencia

     Em tempos modernos, a palavra penitência nem é mais de senso comum. Poucas pessoas a utilizam e os mais jovens desconhecem seu significado, ao menos foi o resultado de uma enquete informal que fiz. Penitência pode ser entendida como o remorso de haver ofendido a Deus. Se buscarmos a confissão, a penitência é a “pena” que o confessor impõe ao confessado ou penitente. Recordo-me, quando criança, que a penitência era associada com jejuns que alguém impõe a si mesmo. O engraçado era que quando os mais velhos estavam em penitência, expressavam-se como se estivessem a semelhança de Atlas. Em nada notava-se que estavam em comunhão com Deus.

   Procurando mais informações sobre as penitências, encontrei uma história, da cidade de Bananal – SP, enviada pelo senhor Reinaldo Afonso. Segundo o relato: “eram, aproximadamente, quatro horas e trinta minutos de uma madrugada enfeitada com linda lua cheia. Uma Senhora chamada Dona Nilza estava indo para a procissão da penitência durante a quaresma, quando passou em frente ao portão do cemitério e encontrou duas senhoras vestidas de branco com véu cobrindo seus rostos, pensou então que fossem suas amigas Maria e Ana. Começou a conversar com as senhoras que não lhe respondiam. Ao chegarem à Matriz do Senhor Bom Jesus do Livramento, Dona Nilza acabou se perdendo das senhoras, que achava serem suas amigas, no meio dos fiéis. Ao reencontrar com as amigas, notou que estavam com roupas diferentes das que havia visto antes e, confusa, perguntou-lhes se conheciam as duas senhoras que vieram com ela. Maria e Ana falaram para Dona Nilza que não tinham visto ninguém a acompanhando. Dona Nilza ficou confusa e foi em direção ao santíssimo, novamente encontrou as duas senhoras de branco. Ao se aproximar advertiu-as com leves tapinhas nas costas e quando as senhoras viraram levantando os véus, Dona Nilza percebeu que no lugar de seus rostos havia um enorme buraco, saiu correndo amedrontada. Depois ficou sabendo que algumas almas vão às procissões para pagar suas antigas penitências.”

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