Uma das maiores descobertas arqueológicas do século XX, sem dúvida, ocorreu em dezembro de 1945, quando alguns beduínos egípcios deslocavam-se com seus camelos por perto de um rochedo chamado Jabal al-Tarif, que margeia o rio Nilo, no Alto Egito, não muito longe da moderna cidade de Nag Hammadi.
Eles estavam procurando um tipo de fertilizante natural na área, chamado sabaque. No sopé do Jabal al-Tarif começaram a cavar em torno de uma pedra que caíra no talude, e, sem esperarem, encontraram um jarro de armazenagem com um recipiente selado na parte superior. Um dos felás, chamado Muhammad Ali Samman, quebrou o jarro com uma picareta na esperança de encontrar algo valioso, talvéz um pequeno tesouro. Deve ter ficado um tanto quanto decepcionado ao ver que, em vez de ouro ou algum tipo de objeto de igual valor, no jarro só havia fragmentos de papiros. Muhammad Ali Samman, sem querer ou se dar conta, havia descoberto treze livros de papiro (códices), a que hoje chamamos de a biblioteca copta de Nag Hammadi, dois anos antes de outra descoberta famosa, a dos Manuscritos do Mar Morto, conjunto de documentos encontrados na Palestina e que haviam pertencido a uma comunidade judaica que professavam uma forma ascética diferente de judaísmo, conhecido como essênios.
Porém, apesar destes últimos manuscritos terem tido maior divulgação, serem mais famosos e terem sido alvos de debates, os primeiros possuem, todavia, caráter muito mais revolucionário, em especial por estarem ligados diretamente ao cristianismo. Além de outras obras valiosas, entre estes papiros estava algo muito interessante: o chamado Evangelho de Tomé, que é uma coletânea de sentenças de Jesus que teriam sido compiladas, segundo a primeira frase deste Evangelho, por Judas Tomé, O Gêmeo. Antes desta descoberta excepcional, os estudiosos dos evangelhos já tinham algumas referências dos pais da Igreja referentes a um documento denominado Evangelho de Tomé (ou de Tomás). Porém, o conteúdo deste documento punha em xeque alguns posicionamentos dogmáticos da Igreja. Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses 6.31 afirmava que o Tomé que escreveu este Evangelho não era um seguidor de Jesus, mas um maniqueu - um maniqueísta, portanto, seguidor gnóstico e místico de Mani, mestre herético do século III.
Os papiros encontrados na proximidades de Nag Hammadi, tinham cerca de 1.500 anos, e eram traduções em copta de manuscritos ainda mais antigos feitos em grego e na língua do Novo Testamento, como constatou-se, ao verificar que parte destes manuscritos tinham sido encontrados em outros locais, como por exemplo alguns fragmentos do chamado Evangelho de Tomé. As datas dos textos originais estão estimadas entre os anos 50 e 180, pois em 180, Irineu o bispo ortodoxo de Lyon, declarou que os hereges "dizem possuir mais evangelhos do que os que realmente existem".
O Evangelho de Tomé, preservado em versão completa num manuscrito copta, é uma lista de 114 ditos atribuídos a Jesus. Alguns são semelhantes aos dos evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, mas outros eram desconhecidos até a descoberta desse manuscrito em 1945. Tomé não explora, como os demais, a forma narrativa, apenas cita — de forma não estruturada — as frases, os ditos ou diálogos breves de Jesus a seus discípulos, contados a Tomé, dito Dídimo ("gêmeo" em grego), sem incluí-los em qualquer narrativa, nem apresentá-los em contexto filosófico ou retórico. Duas características marcantes do Evangelho de Tomé, que o diferenciam dos canônicos, são a recomendação de Jesus para que ninguém faça aquilo que não deseja ou não gosta e a ênfase não na fé, mas a descoberta de si mesmo.
No Evangelho, a identidade de Jesus entra em questão a partir do dito 13. Jesus propõe aos discípulos a que ele se assemelharia. Pedro dá-lhe uma dimensão sobrenatural, enquanto Mateus, o coloca entre os filósofos. Tomé afirma que Jesus é inefável. A filiação divina é assegurada, no dito 44, ao Jesus se referir a Deus como pai. O designativo principal para Jesus é o Vivente (dito 52).
A tradução abaixo foi feita pelo professor e filósofo Huberto Rohden, baseada na versão francesa de Phillipe de Suarez, feita diretamente dos manuscritos em língua copta.
O EVANGELHO DE TOMÉ
Estas são as palavras secretas de Jesus, o vivo, que foram escritas por Didymos Tau'ma (Tomé (Tomás), o gêmeo)
1. Quem descobrir o sentidos dessas palavras, não provará a morte.
2. Quem procura, não cesse de procurar até achar; e, quando achar, será estupefato; e, quando estupefato, ficará maravilhado - e então terá domínio sobre o Universo.
3. Jesus disse: Se vossos guias vos disserem: ‘o reino está no céu', então as aves vos precederam; se vos disserem que está no mar, então os peixes vos precederam. Mas o reino está dentro de vós, e também fora de vós. Se vos conhecerdes, sereis conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis em pobreza, e vós mesmos sereis essa pobreza.
4. O homem idoso perguntará, nos seus dias, a uma criança de sete dias pelo lugar da vida - e ele viverá. Porque muitos primeiros serão últimos, e serão unificados.
5. Conhece o que está ante os teus olhos – e o que te é oculto te será revelado; porque nada é oculto que não seja manifestado.
6. Perguntaram os discípulos a Jesus: Queres que jejuemos? Como devemos orar? Como dar esmolas? Que alimentos devemos comer?
Respondeu Jesus: Não mintais a vós mesmos, e não façais o que é odioso! Porquanto todas essas coisas são manifestas diante do céu. Não há nada oculto que não seja manifestado, e não há nada velado que, por fim, não seja revelado.
7. Bendito o leão comido pelo homem, porque o leão se torna homem! Maldito o homem comido pelo leão, porque esse homem se torna leão!
8. Ele disse: O homem se parece com um pescador ajuizado, que lançou sua rede ao mar. Puxou para fora a rede cheia de peixes pequenos. Mas entre os pequenos o pescador sensato encontrou um peixe bom e grande. Sem hesitação, escolheu o peixe grande e devolveu ao mar todos os pequenos. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
9. Disse Jesus: Saiu o semeador. Encheu a mão e lançou a semente. Alguns grãos caíram no caminho; vieram as aves e os cataram. Outros caíram sobre os rochedos; não deitaram raízes para dentro da terra nem mandaram brotos para o céu. Outros ainda caíram entre espinhos, que sufocaram a semente e o verme a comeu. Outra parte caiu em terra boa, e produziu fruto bom rumo ao céu; produziu sessenta por uma, e cento e vinte por uma.
10. Disse Jesus: Eu lancei fogo sobre a terra – e eis que o vigio até que arda.
11. Disse Jesus: Este céu passará, e passará também aquele que está por cima deste. Os mortos não vivem, e os vivos não morrerão. Quando comíeis o que era morto, vós o tornáveis vivo. Quando estiverdes na luz, que fareis? Quando éreis um, vos tornastes dois; mas, quando fordes dois, que fareis?
12. Os discípulos perguntaram a Jesus: Sabemos que nos vais deixar. E quem será então nosso chefe? Respondeu Jesus: No ponto onde estais, ireis ter com Tiago, que está a par das coisas do céu e da terra.
13. Disse Jesus a seus discípulos: Comparai-me e dizei-me com quem me pareço eu.
Respondeu Simão Pedro: Tu és semelhante a um anjo justo.
Disse Mateus: Tu és semelhante a um homem sábio e compreensivo.
Respondeu Tomé: Mestre, minha boca é incapaz de dizer a quem tu és semelhante.
Replicou-lhe Jesus: Eu não sou teu Mestre, porque tu bebeste da Fonte borbulhante que te ofereci e nela te inebriaste.
Então levou Jesus Tomé à parte e afastou-se com ele; e falou com ele três palavras. E, quando Tomé voltou a ter com seus companheiros, estes lhe perguntaram: Que foi que Jesus te disse? Tomé lhes respondeu: Se eu vos dissesse uma só das palavras que ele me disse, vós havíeis de apedrejar-me - e das pedras romperia fogo para vos incendiar.
14. Jesus disse-lhes: Se jejuardes, cometereis pecado. Se orardes, sereis condenados. Se derdes esmolas, prejudicareis ao espírito. Quando fordes a um lugar onde vos receberem, comei o que vos puserem na mesa e curai os doentes que lá houver. Pois o que entra pela boca não o torna um homem impuro, mas sim o que sai da boca, isto vos tornará impuros.
15. Se virdes alguém que não seja filho de mulher, prostrai-vos de rosto em terra e adorai-o – ele é vosso Pai.
16. Talvez os homens pensem que eu vim para trazer paz à terra, e não sabem que eu vim para trazer discórdias à terra, fogo, espada e guerra. Haverá cinco numa casa, três contra dois, dois contra três; pai contra filho, e filho contra pai. E serão solitários.
17. Eu vos darei o que nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, nenhuma mão tangeu, e que jamais surgiu no coração do homem.
18. Perguntaram os discípulos a Jesus: Como será o nosso fim? Respondeu-lhes Jesus: Descobristes o princípio, para que estejais procurando o fim? Pois onde estiver o princípio ali estará o fim. Feliz de quem está no princípio; também conhecerá o fim - e não provará a morte.
19. Disse Jesus: Feliz daquele que era antes de existir. Se vós fordes meus discípulos e realizardes as minhas palavras, estas pedras vos servirão. Há no vosso paraíso cinco árvores, que permanecem inalteradas no inverno e no verão, e cujas folhas não caem; quem as conhecer, esse não provará a morte.
20. Disseram os discípulos a Jesus: Dize-nos, a que se assemelha o Reino do céus?
Respondeu-lhes ele: Ele é semelhante a um grão de mostarda, que é menor que todas as sementes; mas, quando cai em terra, que o homem trabalha, produz um broto e se transforma num abrigo para as aves do céu.
21. Disse Maria a Jesus: Com quem se parecem os teus discípulos?
Respondeu Jesus: Parecem-se com garotos que vivem num campo que não lhes pertence. Quando aparecem os donos do campo, dirão estes: Deixai-nos o nosso campo. E eles desnudam-se diante deles e lhes deixam o campo.
Por isto vos digo eu: Se o dono da casa sabe quando vem o ladrão, vigia antes da sua chegada e não o deixará penetrar na casa do seu reino para lhe roubar os haveres. Vós, porém, vigiai em face do mundo; cingi os vossos quadris com força para que os ladrões não encontrem caminho até vós. E possuireis o tesouro que desejais. Sede como um homem de experiência, que conhece o tempo da colheita, e, de foice na mão, ceifará o trigo. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
22. Jesus viu crianças de peito a mamarem. E ele disse a seus discípulos: Essas crianças de peito se parecem com aqueles que entram no Reino. Perguntaram-lhe eles: Se formos pequenos, entraremos no Reino?
Respondeu-lhes Jesus: Se reduzirdes dois a um, se fizerdes o interior como o exterior, e o exterior como o interior, se fizerdes o de cima como o de baixo, se fizerdes um o masculino e o feminino, de maneira que o masculino não seja mais masculino e o feminino não seja mais feminino - então entrareis no Reino.
23. Disse Jesus: Eu vos escolherei, um entre mil, e dois entre dez mil. E eles aparecerão como um só.
24. Seus discípulos pediram: Mostra-nos o lugar onde tu estás, pois precisamos procurá-lo. Respondeu-lhes ele: Quem tem ouvidos, ouça! Há luz dentro dum ser luminoso, e ele ilumina o mundo inteiro. Se não o iluminar, ele é escuridão.
25. Disse Jesus: Ama a teu irmão como a tua própria alma e cuida dele como da pupila dos teus olhos.
26. Jesus disse: Tu vês o cisco no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu próprio olho. Se tirares a trave do teu próprio olho, verás claramente como tirar o cisco do olho do teu irmão.
27. Se não jejuardes em face do mundo, não achareis o Reino; se não guardardes o sábado como sábado, não vereis o Pai.
28. Jesus disse: Eu estava no meio do mundo e me revelei a ele corporalmente. Encontrei todos embriagados, e não encontrei nenhum deles sedento. E minha alma sofria dores pelos filhos dos homens, porque eles são cegos no seu coração e nada enxergam. Assim como entraram no mundo vazios, querem sair do mundo vazios. Agora estão bêbados, e só se converterão se abandonarem o seu vinho.
29. Jesus disse: Se a carne foi feita por causa do espírito, é isto maravilhoso. Mas, se o espírito foi feito por causa do corpo, é isto a maravilha das maravilhas. Eu, porém, estou maravilhado diante do seguinte: Como é que tamanha riqueza foi habitar em tanta pobreza?
30. Jesus disse: Onde há três deuses, eles são deuses. Onde há dois ou um, eu estou com ele.
31. Nenhum profeta é aceito em sua cidade, nem pode um médico curar os que o conhecem.
32. Jesus disse: Uma cidade situada num monte e fortificada, não pode cair, nem pode permanecer oculta.
33. O que ouvirdes com um ouvido, anunciai-o com o outro do alto dos telhados; porque ninguém acende uma lâmpada e a põe debaixo do velador, nem em lugar oculto, mas sim no candelabro, para que todos os que entram e saem vejam a luz.
34. Jesus disse: Quando um cego guia outro cego, ambos cairão na cova.
35. Jesus disse: Ninguém pode penetrar na casa do forte e prendê-lo, se antes não lhe ligar as mãos; só depois pode saquear-lhe a casa. (Nos outros evangelhos, esse texto é relacionado com o episódio em que Jesus expulsara um demônio, e seus inimigos o acusaram de ser aliado de satanás. Então Jesus faz um paralelo entre “o forte”, que é satanás, e “o mais forte”, que é o Cristo)
36. Jesus disse: Não andeis preocupados, da manhã até a noite, e da noite até a manhã, sobre o que haveis de vestir.
37. Perguntaram os discípulos a Jesus: Em que dia nos aparecerás? Em que dia te veremos?
Respondeu Jesus: Se vos despojardes do vosso pudor; se, como crianças, tirardes os vossos vestidos e os colocardes sob os vossos pés, percebereis o filho do Vivo – e não conhecereis temor.
38. Jesus disse: Muitas vezes desejastes ouvir estas palavras que vos digo, e não achastes ninguém que vô-las pudesse dizer. Virão dias em que me procurareis e não me achareis.
39. Disse Jesus: Os fariseus e os escribas tiraram a chave do conhecimento e a ocultaram. Nem eles entraram nem permitiram entrar os que queriam entrar. Vós, porém, sede inteligente como as serpentes e simples como as pombas.
40. Jesus disse: Uma videira foi plantada fora daquilo que é do Pai; e, como não tem vitalidade, será extirpada pela raiz e perecerá.
41. Jesus disse: Aquele que tem algo na mão, esse receberá; e aquele que não tem, esse até perderá o pouco que tem.
42. Disse Jesus a seus discípulos: Sede transeuntes!
43. Disseram-lhe seus discípulos: Quem és tu que nos dizes tais coisas? Respondeu-lhes ele: Pelas coisas que vos digo não conheceis quem eu sou? Vós sois como os judeus, que amam a árvore e detestam o seu fruto; ou amam o fruto e detestam a árvore.
44. Disse Jesus: Quem blasfemar contra o Pai receberá a graça; quem blasfemar contra o Filho receberá a graça; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo esse não receberá a graça, nem na terra nem no céu.
45. Disse Jesus: Não se colhem uvas de espinheiros, nem figos de abrolhos, que não produzem frutos. O homem bom tira coisas boas do seu tesouro; o homem mau tira coisas más do tesouro mau do seu coração, fala coisas más da abundância do seu coração.
46. Disse Jesus: Desde Adão até João Batista, não há ninguém maior entre os nascidos de mulher do que João Batista, porque seus olhos não foram violados. Mas eu disse: Aquele que entre vós se tornar pequeno conhecerá o Reino e será maior do que João.
47. Disse Jesus: O homem não pode montar em dois cavalos, nem pode retesar dois arcos. O servo não pode servir a dois senhores, pois ele honra um e ofende o outro. Nenhum homem que bebeu vinho velho deseja beber vinho novo. Não se coloca vinho novo em odres velhos, com medo que se rompam; vinho novo se coloca em odres novos, para que não se perca. Não se cose um remendo velho em roupa nova, para não causar rasgão.
48. Disse Jesus: Se dois viverem em paz e harmonia na mesma casa, dirão a um monte "sai daqui! " – e ele sairá.
49. Disse Jesus: Felizes sois vós, os solitários e os eleitos, porque achareis o Reino. Sendo que vós saístes dele, a ele voltareis.
50. Disse Jesus: Se os homens vos perguntarem donde viestes, respondei-lhes: Nós viemos da luz, lá onde ela nasce de si mesma, surge e se manifesta em sua imagem. E se vos perguntarem: Quem sois vós? Respondei-lhes: Nós somos os filhos eleitos do Pai vivo. Se os homens vos perguntarem: Qual o sinal do Pai em vós? Respondei: É movimento e repouso ao mesmo tempo.
51. Seus discípulos perguntaram: Quando virá o repouso dos mortos e em que dia virá o mundo novo? Respondeu-lhes ele: Aquilo que vós aguardais já veio – mas vós não o conheceis.
52. Disseram-lhe os discípulos: Vinte e quatro profetas falaram em Israel, e todos falaram de ti. Respondeu-lhes ele: Rejeitastes aquele que está vivo diante de vós, e falais dos mortos.
53. Perguntaram-lhe os discípulos: A circuncisão é útil ou não? Respondeu-lhes ele: Se ela fosse útil, o homem já nasceria circuncidado. A verdadeira circuncisão é espiritual, e esta é útil a todos.
54. Disse Jesus: Felizes os pobres, porque vosso é o Reino dos céus.
55. Disse Jesus: Quem não odiar seu pai e sua mãe não pode ser meu discípulo. Quem não odiar seus irmãos e suas irmãs não é digno de mim.
56. Disse Jesus: Quem conhece o mundo, achou um cadáver; e quem achou um cadáver, dele não é digno o mundo.
57. Jesus disse: O Reino do Pai é semelhante a um homem que semeou boa semente em seu campo. De noite, porém, veio seu inimigo e semeou erva má no meio da semente boa. O senhor do campo não permitiu que se arrancasse a erva má, para evitar que, arrancando esta, também fosse arrancada a erva boa. No dia da colheita se manifestará a erva má. Então será ela arrancada e queimada.
58. Feliz do homem que foi submetido à prova – porque ele achou a vida.
59. Disse Jesus: Olhai para o Vivo, enquanto viveis, pra que não morrais e desejeis ver aquele que já não podeis ver.
60. Ao entrarem na Judeia, eles viram um samaritano que carregava uma ovelha.
Jesus disse a seus discípulos: Por que a carrega?
Responderam eles: Para matá-la e comê-la.
Disse-lhes Jesus: Enquanto a ovelha está viva, ele não a poderá comer; só depois de morta e cadáver.
Replicaram eles: De outro modo não a pode comer.
Respondeu-lhes Jesus: Procurai para vós um lugar de repouso, para que não vos torneis cadáveres e sejais devorados.
61. Jesus disse: Haverá dois na mesma cama: um morrerá, o outro viverá.
Salomé disse: Quem és tu, ó homem? Como que saído de um só? Tu que usavas a minha cama e comias à minha mesa?
Responde Jesus: Eu vim daquele que é todo um em si; isto me foi dado por meu Pai.
Disse Salomé: Eu sou discípula tua.
Vem a propósito o dito: Quando o discípulo é vácuo, será repleto de luz; mas quando é dividido, ele será repleto de trevas.
62. Eu revelo meus mistérios àqueles que são idôneos para ouvi-los. O que tua mão direta faz não o saiba a tua mão esquerda.
63. Disse Jesus: Um homem rico tinha muitos bens. E disse: Vou aproveitar os meus bens; vou semear, colher, plantar e encher meus armazéns, para que não me venha a faltar nada. Foi isto que ele pensou em seu coração. E nesta noite ele morreu.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
64. Disse Jesus: Um homem fez um banquete e, depois de tudo preparado, enviou seu servo para chamar os convidados. O servo foi ao primeiro e disse-lhe: Meu senhor te convida para o banquete. O homem respondeu: Uns negociantes me devem dinheiro; eles vêm à minha casa esta noite, e eu tenho de falar com eles; peço-te que me dispenses de comparecer ao jantar.
O servo foi até outro e disse: Meu senhor te convidou.
Este respondeu: Comprei uma casa, e marcaram um dia para mim; não tenho tempo para vir. O servo foi a outro e disse-lhe: Meu senhor te convida. Este respondeu: Um amigo meu vai casar-se, e eu fui convidado para preparar a refeição; não posso atender; favor dispensar-me.
O servo foi a outro ainda e disse-lhe: Meu senhor te convida. Este respondeu: Acabo de comprar uma fazenda e estou saindo para buscar o rendimento. Não poderei ir, por isso me desculpo.
O servo retornou e comunicou ao seu senhor: Os convidados ao banquete pedem que os dispenses de comparecerem.
Disse o senhor a seu servo: Vai pelos caminhos e traze os que encontrares, para que venham ao meu banquete; mas os compradores e negociantes não entrarão nos lugares de meu Pai.
65. Disse ele: Um homem tinha uma vinha. Arrendou-a a uns colonos para a cultivarem, a fim de receber deles o fruto. Enviou seu servo para receber o fruto da vinha. Os colonos prenderam o servo e o espancaram, deixando-o à beira da morte.
O servo voltou e contou a seu senhor o ocorrido. O senhor disse: Talvez não o tenham reconhecido. E enviou-lhes outro servo. Mas os colonos espancaram também este. Então o senhor mandou seu filho, dizendo: Talvez tenham respeito a meu filho.
Mas, como os camponeses soubessem que esse era o herdeiro da vinha, prenderam-no e o mataram.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
66. Disse Jesus: Mostrai-me a pedra que os construtores rejeitaram. Ela é a pedra angular.
67. Disse Jesus: Quem conhece o universo, mas não se possui a si mesmo, esse não possui nada.
68. Disse Jesus: Felizes sois vós, se vos rejeitarem e odiarem. E lá onde vos tiraram e odiaram não será encontrado lugar algum.
69. Disse Jesus: Felizes no seu coração são os perseguidos, os que na verdade conhecem o Pai. Felizes são os famintos, porque o corpo dos que sabem querer será saciado.
70. Jesus disse: Se fizerdes nascer em vós aquele que possuis, ele vos salvará; mas, se não possuirdes em vós a este, então sereis mortos por aquele que não possuis. (falando do corpo e da alma)
71. Disse Jesus: Destruirei esta casa, e ninguém a poderá reconstruir.
72 . Alguém diz a Jesus: Dize a meus irmãos que repartam comigo os bens de meu pai.
Respondeu Jesus: Homem, quem me constituiu partidor?
E dirigindo-se a seus discípulos, disse-lhes: Será que eu sou um partidor?
73. Disse Jesus: Grande é a safra, e poucos são os operários. Pedi, pois ao Senhor para que mande operários à sua seara.
74. Disse ele: Senhor, muitos rodeiam a fonte, mas ninguém entra na fonte.
75. Disse Jesus: Muitos estão diante da porta – mas somente os solitários é que entram na câmara nupcial.
76. Disse Jesus: O Reino é semelhante a um negociante que possuía um armazém. Achou uma pérola, e, sábio como era, vendeu todo o armazém e comprou essa pérola única. Procurai também vós o tesouro imperecível, que se encontra lá onde as traças não se aproximam para comê-lo nem os vermes o destroem.
77. Disse Jesus: Eu sou a luz, que está acima de todos. Eu sou o “Todo”. O Todo saiu de mim, e o Todo voltou a mim. Rachai a madeira – lá estou eu. Erguei a pedra – lá me achareis.
78. Disse Jesus: Por que saístes ao campo? Para verdes um caniço agitado pelo vento? Ou um homem vestido de roupas macias? Os reis e os grandes vestem roupas macias – e eles não poderão conhecer a verdade.
79. Uma mulher da multidão disse-lhe: Feliz o ventre que te gestou e os seios que te amamentaram.
Respondeu ele: Felizes os que ouviram o Verbo do Pai e viveram a Verdade. Porque dias virão em que direis: Feliz o ventre que não concebeu, e felizes os seios que não amamentaram.
80. Disse Jesus: Quem conheceu o mundo encontrou o corpo. Mas quem encontrou o corpo, desse tal não é digno o mundo. (o mundo material é um corpo morto, não digno do homem espiritual)
81. Quem ficou rico, saiba dominar-se; quem ficou poderoso, saiba renunciar.
82. Quem está perto de mim está perto da chama; quem está longe de mim está longe do Reino.
83. Disse Jesus: As imagens se manifestam ao homem, e a luz que está oculta nelas – na imagem da luz do Pai – se revelará, mas sua imagem permanecerá velada por sua luz.
84. Disse Jesus: Quando virdes a vossa semelhança, alegrai-vos. Mas, quando virdes o vosso modelo, que desde o princípio estava em vós e nunca morrerá, nem jamais se revela plenamente – será que suportareis isto?
85. Disse Jesus: Adão nasceu de um grande poder e de uma grande riqueza. Mas não era digno deles. Se deles fosse digno, não teria morrido.
86. Disse Jesus: As raposas têm as suas tocas; as aves têm os seus ninhos - mas o Filho do Homem não tem onde repousar a sua cabeça.
87. Miserável o corpo que depende de outro corpo, e miserável a alma que depende desses dois.
88. Os arautos e os profetas irão ter convosco e vos darão o que é vosso. Dai-lhes também vós o que é deles.
89. Disse Jesus: Por que lavais o exterior do recipiente? Não sabeis que o mesmo que criou o interior criou também o exterior?
90. Jesus disse: Vinde a mim, porque o meu jugo é suave e o meu domínio é agradável – e encontrareis repouso para vós mesmos.
91. Disseram-lhe eles: Dize-nos quem és tu, para que tenhamos fé em ti.
Respondeu-lhes ele: Vós examinais o aspecto do céu e da terra, mas não conheceis aquele que está diante de vós. Não sabeis dar valor ao tempo presente.
92. Disse Jesus: Procurai, e achareis. O que me perguntastes nesses dias, eu não vos disse; agora vos digo – e não me perguntais.
93. Não deis as coisas puras aos cães, para que não as arrastem ao lodo. Nem lanceis as pérolas aos porcos, para que não as conspurquem.
94. Quem procura achará; a quem bate abrir-se-lhe-á.
95. Quando tendes dinheiro, não o empresteis a juros, mas dai-o a quem não vos possa restituir.
96. O Reino do Pai é semelhante a uma mulher que tomou um pouco de fermento, misturou-o com a massa, e fez com ela grandes pães. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
97. Disse Jesus: O Reino é semelhante a uma mulher que levava por um longo caminho uma vasilha cheia de farinha. Pelo caminho, uma alça da vasilha quebrou e a farinha se espalhou atrás dela sem que ela o percebesse; e por isto não se afligiu. Chegada em casa, ela colocou a vasilha no chão – e achou-a vazia.
98. Disse Jesus: O Reino do Pai é semelhante a um homem que quis matar um poderoso. Em sua própria casa ele desembainhou a espada e enfiou-a na parede para saber se sua mão era forte o suficiente para realizar a tarefa. Depois foi matar o poderoso.
99. Seus discípulos lhe disseram: Teus irmãos e tua mãe estão aguardando lá fora.
Respondeu-lhes ele: Os que, nesses lugares, fazem a vontade de meu Pai são os meus irmãos e minha mãe, e são eles que entrarão no Reino de meu Pai.
100. Mostraram a Jesus uma moeda de ouro e disseram: Os agentes de César exigem de nós o pagamento do imposto.
Respondeu ele: Dai a César o que é de César, e dai a Deus o que é de Deus - e dai a mim o que é meu.
101. Quem não abandona seu pai e sua mãe, como eu, não pode ser meu discípulo. E quem não amar a seu Pai e sua Mãe, como eu, esse não pode ser meu discípulo; porque minha mãe me gerou, mas minha Mãe verdadeira me deu a vida.
102. Disse Jesus: Ai dos fariseus! Eles se parecem com um cão deitado no cocho dos bois; não come nem deixa os bois comerem.
103. Disse Jesus: Feliz do homem que sabe por onde penetram os ladrões! Assim pode erguer-se, reunir forças e estar alerta e pronto antes que eles venham.
104. Disseram-lhe: Vinde, vamos hoje orar e jejuar. Respondeu Jesus: Que falta cometi eu, em que ponto sucumbi? Mas, quando o esposo sair da sua câmara nupcial, então oraremos e jejuaremos.
105. Disse Jesus: Quem conhece o seu pai e sua mãe, porventura será chamado filho de prostituta? (sobre a natureza Divina da alma)
106. Disse Jesus: Se de dois fizerdes um, então vos fareis Filhos do Homem. E então, se disserdes a este monte "retira-te daqui" – ele se retirará.
107. Disse Jesus: O Reino é semelhante a um pastor que tinha cem ovelhas. Uma delas se extraviou, e era a maior de todas. Ele deixou as noventa e nove e foi em busca daquela única até achá-la. E, depois de achá-la, lhe disse: eu te amo mais do que as noventa e nove.
108. Disse Jesus: Quem beber da minha boca se tornará como eu. E eu serei o que ele é. E as coisas ocultas lhe serão reveladas.
109. Disse Jesus: O Reino se parece com um homem que possuía um campo no qual estava oculto um tesouro de que ele nada sabia. Ao morrer, deixou o campo a seu filho, que também não sabia de nada; tomou posse e vendeu o campo – mas o comprador descobriu o tesouro ao arar o campo.
110. Disse Jesus: Quem encontrou o mundo e se enriqueceu, que renuncie ao mundo.
111. Disse Jesus: O céu e a terra se desenrolarão diante de vós, e quem vive do Vivente não verá a morte. Quem se acha a si mesmo, dele não é digno o mundo.
112. Disse Jesus: Deplorável a carne que depende da alma! Deplorável a alma que depende da carne!
113. Os discípulos perguntaram-lhe: Em que dia vem o Reino?
Jesus respondeu: Não vem pelo fato de alguém esperar por ele; nem se pode dizer ei-lo aqui! Ei-lo acolá! O Reino está presente no mundo inteiro, mas os homens não o enxergam.
114. Simão Pedro disse: Seja Maria afastada de nós, porque as mulheres não são dignas da vida.
Respondeu Jesus: Eis que eu a atrairei, para que ela se torne homem, de modo que também ela venha a ser um espírito vivente, semelhante a vós homens. Porque toda a mulher que se fizer homem entrará no Reino dos céus.
sabado, 22 de março de 2014
Mesopotâmia: Retorno ao Éden
Recentemente tive a oportunidade de assistir a um interessante documentário apresentado no canal a cabo Discovery Civilization, onde uma interessante série está sendo apresentada sobre civilizações antigas, dentre elas, três das mais antigas são apresentadas neste mesmo episódio de 45 min.
Nele, relata como as grandes religiões monoteístas de cristãos, judeus e muçulmanos têm uma origem comum no Crescente Fértil da Mesopotâmia. E aqui, em meio à aridez da areia nos desertos do Iraque moderno e atual nações do Golfo Pérsico, foram encontradas a grandeza dos antigos impérios da Mesopotâmia, nome que por muito tempo serviu para denominar esses povos como sendo um só.
A região onde as primeiras sementes de civilização humana foram plantadas. E foi aqui que três das maiores civilizações do mundo antigo sugiram; Babilônia, Assíria e Suméria.
Essa busca pelo Éden é uma viagem de volta ao passado. Primeiro até a Babilônia, a última dessas civilizações; Depois, mais distante, até os Assírios; Os primeiros mestres da arte da guerra. E finalmente, um momento no passado longínquo, até a Suméria e a criação da civilização em si.
Vejam o documentário
Estudiosa Holandesa afirma que tradução da Bíblia está errada!
Uma respeitada estudiosa do Velho Testamento acredita que a visão de Deus como criador de todas as coisas é falsa, e que a Bíblia foi traduzida erroneamente durante milhares de anos. Ellen van Wolde, da Universidade de Radboud, na Holanda, afirma que a primeira frase da Bíblia, “No começo, Deus criou o Céu e a Terra”, não é uma tradução fiel do texto original, em hebreu.As 10 seitas mais malucas do mundo
Wolde afirma ter realizado uma análise textual que sugere que os escritores da Bíblia não tinham a intenção de afirmar que Deus criou o mundo – e que, de fato, a Terra já existia quando ele criou os humanos e os animais. A pesquisadora analisou os escritos originais do hebreu e colocou-os no contexto da Bíblia como um todo, e no contexto de outras histórias de criação da antiga Mesopotâmia.
Segundo a pesquisadora, a palavra “bara”, que aparece na frase, não significa “criar”, e sim “separar”, no sentido espacial. Deste modo, o significado original da frase seria “No início, Deus separou o Céu e a Terra”.
Wolde diz que sua análise mostra que o início da Bíblia não é o início dos tempos, e sim o início de uma narração. “A ideia da criação a partir do nada é um grande mal-entendido”, diz a pesquisadora.
Por que a religião ainda existe?
As descobertas do estudo são bastante radicais, e ela afirma que espera que as conclusões levantem um debate religioso. Entretanto, ao contrário do que se possa acreditar, a pesquisadora é religiosa, e ficou pessoalmente incomodada pelas descobertas: “Me considero religiosa e o Criador era algo muito especial, como uma noção de confiança. Quero manter esta confiança”, diz.
Papiro citando mulher de Jesus sugere que ele teria sido casado
Um antigo papiro copta cujo escriba fala de Jesus referindo-se à "minha mulher" é a primeira declaração clara registrada da afirmação de que ele era casado, disse nesta quarta-feira a pesquisadora de Harvard que divulgou o trecho do texto de 1,7 mil anos.
No entanto, a professora Karen King, da Divinity School, de Harvard, disse que a descoberta histórica do fragmentainda não apresentava uma resposta histórica definitiva à questão sobre se Jesus teve ou não uma esposa. "Essa não é uma bala de prata com respeito a essa questão", disse Karen em uma entrevista em Roma, onde ela apresentou seus achados.
O fragmento, que mede 8 centímetros por 4 centímetros, inclui palavras em copta antigo nas quais um escriba assinalou: "Jesus disse a eles: minha mulher..." Em outra parte do fragmento, consta a frase "ela poderá ser minha discípula". "Acho que o próprio fragmento está discutindo questões sobre discipulado e família. Mas certamente é de grande interesse o fato de que essa seja a primeira declaração inequívoca que temos de que Jesus teve uma mulher", afirmou ela.
apresentou seus achados em um congresso sobre estudos coptas em uma universidade dirigida pelo Vaticano, situada do outro lado da Praça São Pedro, depois de eles serem anunciados por Harvard na terça-feira. Acredita-se que o trecho, que foi dado a Karen por uma pessoa para que ela o estudasse, tenha sido escrito no século 4 em um dialeto da língua copta usado no norte do Egito.
"Quero deixar muito claro que esse trecho não nos dá evidência de que Jesus fosse ou não casado", afirmou ela em uma entrevista durante um intervalo do congresso.
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Karen, porém, disse esperar que ele ajude os cristãos e os teólogos a lidar com questões complexas sobre sexualidade e o papel das mulheres, debatidas no começo da Igreja e ainda em discussão atualmente.
A tradição cristã sustenta há muito tempo que Jesus não foi casado e a Igreja Católica, de longe a maior da cristandade, afirma que as mulheres não podem ser padres porque Cristo escolheu apenas homens como discípulos.
A professora afirma que a “esposa” referida seria Maria Madalena, a mulher que Jesus salvou do apedrejamento por estar sendo acusada de adultério. Em declarações feitas durante a conferência sobre estudos religiosos, que acontece esta semana em Roma, informou a revista The Smithsonian.
À publicação científica, a pesquisadora de Harvard revelou que ao receber as primeiras imagens enviadas pelo colecionador de quem ela conseguiu o fragmento, já dava para notar claramente a inscrição em que Jesus diz “minha esposa”.
O fragmento tem o mesmo idioma de muitos textos cristãos que foram traduzidos nos séculos 3 e 4. Mas em um dos lados do pedaço de papiro só puderam ser decifradas as palavras “minha mãe” e “três”. O texto da face oposta é que traz as revelações feitas pela professora Karen. “Está em muito bom estado de conservação”, disse ela. No entanto, o texto que ainda permanece impresso no pedaço de papiro precisa ter a tinta analizada. Ali estão escritas 33 palavras em 14 linhas incompletas.
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A pesquisadora reafirmará, em um artigo que será publicado na próxima edição da revista Teológica de Harvard, que suas análises indicam que a “esposa” a quem Jesus Cristo se refere é provavelmente Maria Madalena e o Messias parece estar defendendo-a de alguém, talvez um dos discípulos do sexo masculino.
“Ela será capaz de ser minha discípula”, responde Jesus. Em seguida, duas linhas depois, Jesus diz: “Eu irei morar com ela.”
O papiro é o único texto conhecido desde a antiguidade em que Jesus Cristo é descrito como um homem casado.
Colombo talvez não tenha sido o primeiro, e nem mesmo o segundo a descobrir a América
A história da humanidade é cheia de capítulos nebulosos e relatos mal contados. No meio de pistas vagas e dúbias, os pesquisadoras escavam em uma montanha de boatos a verdade histórica.
Um dos capítulos mais emocionantes e talvez enganosos é justamente a descoberta das Américas pelos europeus, uma história que envolve um personagem do qual pouco se sabe, Cristóvão Colombo, em uma descoberta que, ao que parece, não foi dele.
De qualquer forma, o que sabemos com certeza é que em 1492 Colombo encontrou as ilhas caribenhas, evento que é marcado como sendo a descoberta das Américas. Entretanto, ele só veio a colocar mesmo os pés no continente americano em 1498, quando viajou à América do Sul.
Bem mais ao norte, na Terra Nova, John Cabot (também conhecido como Giovanne Chabotti) se tornou o primeiro europeu, depois de Leif Ericson e os vikings (que teriam visitado a América ali pelo ano 1000), a colocar os pés na América, a mando do rei da Inglaterra, Henrique VII, em três viagens que aconteceram entre os verões de 1496 e 1498. A segunda destas expedições, em 1497, acabou sendo a descoberta de Terra Nova, Newfoundland (o nome inglês da ilha de Terra Nova).
Uma historiadora cheia de segredos
Nossa história da descoberta começa nas décadas de 1960 e 1970, quando uma certa historiadora britânica, Alwyn Ruddock, começou a fazer alegações extraordinárias sobre as viagens de um certo John Cabot, do período dos Grandes Descobrimentos, especialidade dela.
Alwyn afirmava que os comerciantes de Bristol haviam viajado para as Américas antes de 1470, e que John Cabot não havia morrido em 1498 como se acreditava, mas que havia voltado para a Inglaterra em 1500, e que um banco italiano havia financiado suas viagens. O problema era que ela fazia segredo absoluto (até ciumento) de suas fontes, no máximo afirmando que se tratavam de fontes italianas e espanholas, sem entrar em detalhes.
Na década de 1990, ela havia prometido a uma editora inglesa produzir um livro sobre as navegações de John Cabot, mas acabou não produzindo o mesmo, vindo a falecer em 2005 aos 89 anos sem nunca ter revelado a ninguém as fontes de suas descobertas. Pior ainda, deixou ordem no testamento para que seu trabalho fosse destruído. Quarenta ou mais anos de pesquisa, na forma de setenta e oito sacos de cartas, notas, fotografias e microfilmes foram para a picadora.
O Cabot Project
Em 2009, o historiador Evan Jones da Universidade de Bristol e outros historiadores participaram da criação do “Cabot Project”, para investigar as alegações extraordinárias de Alwyn Ruddock, e tentar colocar alguma luz sobre a questão.
Em 2010, Jones recebe um convite para visitar a casa da historiadora falecida. Entrando no recinto em que ela guardara seu trabalho de pesquisa, Jones e sua colaboradora Margaret Condon descobrem que o arquivo dela ainda guardava as etiquetas das pastas, mesmo que as pastas tivessem sido esvaziadas e seu conteúdo destruído.
E lá estava a pista para o banco italiano, uma etiqueta que dizia “The Bardi firm of London”. Com tantos segredos, na hora de fazer o sistema de arquivos, ela baixou a guarda e acabou deixando pistas fáceis.
Seguindo esta pista, Jones entra em contato com Francesco Guidi-Bruscoli, da Universidade de Florença na Itália, que encontra o livro caixa da casa bancária Bardi, e uma anotação de um empréstimo de 50 nobles esterlinos para que um certo Giovanni Chabotti fizesse viagens “ao novo país” (“il nuovo paese”, em italiano). Não é “a um novo país” (“un nuovo paese”), como era de se esperar de uma expedição “descobridora”. Esta expressão parece sugerir que os banqueiros italianos estavam sabendo de mais coisas, que realmente alguém já havia, antes de 1490, viajado para a Terra Nova.
Uma carta que foi descoberta nos anos 1950, de um certo John Day, endereçada provavelmente a Colombo, e escrita nos anos 1497/8, parece apoiar estas especulações, ao falar que era “quase certo” que os homens de Bristol (ele estava falando da expedição de John Cabot, de 1497) “encontraram e descobriram” a nova terra “que ele (Colombo) bem conhecia”.
Comentando a história toda, Jones lamenta a decisão da historiadora: “Eu tenho um enorme respeito pela Alwyn Ruddock como estudiosa. Mas não posso respeitar sua decisão de destruir todo seu trabalho. O que ela fez é a antítese do trabalho de pesquisa histórica – ela procurou destruir todos os seus achados. Eu não posso e não vou aceitar isso”.
De qualquer forma, estas descobertas provavelmente ainda não vão para os livros didáticos de história, por que tudo o que se tem são indícios, pistas, e nenhuma prova de que realmente John Cabot ou outro europeu antes dele houvesse visitado a América.
Os historiadores continuam em campo, pesquisando registros e cartas antigas, tentando redescobrir o que Alwyn parecia ter descoberto. Os resultados obtidos até agora foram publicadas no Historical Research, e em maio de 2011 o Cabot Project recebeu um impulso tremendo na forma de doação de um benfeitor canadense.
Calendário Olímpico é revelado em um computador de 2000 anos
Um dos mais polêmicos achados arqueológicos do mundo – o mecanismo de Anticítera ou máquina de Antikythera – tem mais uma de suas funções reveladas: a previsão dos ciclos de quatro anos dos jogos olímpicos e outros jogos pan-helênicos correntemente usados no helenismo clássico como base para a sua cronologia.
Tendo sido descoberto no início do século XX juntamente com várias outros objetos nos restos de um naufrágio de um antigo navio romano à profundidade de aproximadamente 43 metros na costa da ilha grega de Anticítera (entre a ilha de Citera e a de Creta), sua importância e complexidade não foram compreendidos até recentemente.
A construção foi datada do século 1 a.C, sendo que artefatos desse nível de tecnologia e de complexidade só foram registrados a partir do século XVI, quando relógios e mecanismos astronômicos começaram a ser construídos na Europa Ocidental.
O professor Michael Edmunds da Universidade de Cardiff, que liderou seu estudo mais recente afirmou: “Este dispositivo é simplesmente extraordinário, é o único de seu tipo. O design é de rara beleza e sua precisão nas previsões astronômicas é impressionante. Considerando o cuidado de sua construção e a unicidade de seu funcionamento, tenho que considerar este mecanismo, do ponto vista histórico, como sendo mais valioso que a pintura Mona Lisa”.
Compõe atualmente do acervo do Museu Arqueológico Nacional de Atenas, acompanhado de uma réplica elaborada por Derek de Solla Price, sendo que diversas outras réplicas estão em exposição em vários museus em todo o mundo, tais como Museu do Computador Americano em Bozeman, Montana, Museu das Crianças de Manhattan, em Nova York, em Kassel, Alemanha, e no Musée des Arts et Métiers, em Paris.
O mecanismo encontrado mede aproximadamente 340 × 180 × 90 mm (o tamanho aproximado de um laptop) e compreende 27 engrenagens de bronze, feitas a mão, organizadas primitivamente em uma caixa ou moldura de madeira, constituindo-se no mais antigo computador analógico conhecido, concebido para representar mecanicamente a órbita da Lua, de outros planetas do Sistema Solar e do próprio Sol além de indicar, como afirmado anteriormente, os ciclos de 4 anos dos jogos olímpicos e de outros eventos tais como eclipses solares.
O artefato é também notável por empregar a engrenagem diferencial, que se acreditava ter sido inventada apenas no século XVI, e pelo nível de miniaturização e complexidade de suas partes, comparável às dos relógios produzidos a partir do século XVIII.
Estima-se que em sua construção tenham sido utilizadas muito mais engrenagens que as encontradas, supondo-se que muitas se perderam, provavelmente durante os 2000 anos em que o dispositivo ficara submerso até seu resgate em 1901.
Todas as inscrições encontradas no mecanismo foram feitas em grego koiné, sugerindo que o mecanismo tenha sido construído no mundo helênico em 97 a.C provavelmente em uma academia fundada pelo filósofo estoico Posidônio na ilha grega de Rhodes, que na época era conhecida como um centro de astronomia e engenharia mecânica; esta hipótese sugere ainda que o mecanismo possa ter sido projetado pelo astrônomo Hiparco, uma vez que contém em sua dinâmica de funcionamento vários elementos de sua célebre Teoria Lunar.
A polêmica sobre sua funcionalidade e precisão, ganhou força pela divulgação de várias teorias que aventam a existência de civilizações mais avançadas que contribuíram para o avanço da humanidade em tempos imemoriais compondo uma tecedura intricada de descobertas arqueológicas no mínimo inquietantes. Descobertas essas agrupadas em torno do conceito de OOPART (Out of Place Artifact).
O termo “OOPART” foi criado pelo biólogo e escritor escocês naturalizado americano, Ivan Sanderson Terence e é pouco aceito pela ciência oficial. É empregado para designar objetos relevantes para a história, arqueologia e paleontologia e que foram descobertos fora de contexto ou em sítios incomuns.
O termo também inclui artefatos aparentemente “impossíveis” de serem encontrados naquele local, por serem anacrônicos ou por possuírem uma tecnologia contrastante com os demais artefatos encontrados.
Estrangeiros de uma raça desconhecida, vindos do oriente, invadiram nosso país — foi assim que Manetho, sacerdote egípcio que escreveu uma história do Egito no início do século III a.C., se referiu aos hicsos, homens bronzeados de espessa barba negra. Ele diz ainda que Apophis (c. 1585 a 1542 a.C.) reinava em Avaris e o país inteiro lhe pagava tributos. Está provado que os soberanos estrangeiros assumiram o poder no Egito por volta de 1640 a.C. Considerando-se a situação política do país naquela época, essa façanha audaciosa não deve ter sido muito difícil. Contando com um número suficiente de guerreiros bem equipados e, provavelmente, já utilizando carros de combate puxados por cavalos e ocupados por arqueiros, seria possível a um comandante militar competente penetrar a qualquer momento no país a partir do delta oriental do Nilo e marchar em direção a Mênfis, apoderando-se das insígnias da realeza.
Na ilustração à esquerda vemos Baal, um deus adorado pelos hicsos.
O Papiro Real de Turim designa os reis da XV dinastia (c. 1640 a 1532 a.C.) por seus títulos reais egípcios, mas também como héqa khasout. Esse termo significa rei dos países estrangeiros e dele se derivou o termo grego hyksos da tradição posterior. Tal terminologia os egípcios já utilizavam antes da invasão dos hicsos para denominar os chefes das tribos da Ásia Anterior. Além de usarem os carros, prática que os egípcios ignoravam, e os cavalos, animais que os egípcios raramente tinham visto, embora os burros fossem abundantes no Egito, suas armas de bronze eram melhores e mais facilmente manejáveis do que as empregadas no vale do Nilo. Embora sendo guerreiros fogosos, bem armados e bem vestidos, os invasores não eram selvagens e tinham um código moral bem evoluído e um sentimento de honra bastante elevado.
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Acima a coroa de uma princesa desse povo. |
Os hicsos já vinham se infiltrando e se estabelecendo no Egito há muito tempo. Eram os mesmos que haviam penetrado a leste do delta do Nilo no final da XI dinastia (c. 1991 a.C.), três séculos e meio antes, e que haviam sido expulsos por Amenemhet I (1991 a 1962 a.C.) no começo da XII dinastia. Mas agora retornavam com mais força, concentrando-se em Avaris. Pertenciam a diversas raças. Alguns eram sírios, outros beduínos árabes e a maior parte havia vivido durante séculos no limite meridional da Palestina e a leste do delta egípcio. É provável que alguns dentre eles tenham sido os ancestrais da nação judia. Muitos de seus chefes eram xeques de tribos do deserto, como o foram Abraão e Jacob, proprietários de grandes rebanhos de carneiros e de gado que chegaram até o Egito em busca de pastagens. As descobertas arqueológicas demonstram que um pouco mais tarde, durante a XIII dinastia (c. 1783 até depois de 1640 a.C.), um grande número de asiáticos entrou no Egito e se estabeleceu às margens do delta oriental até as proximidades de Heliópolis. Ali eles conservaram perfeitamente sua identidade cultural. Foi dentre essa população que os comandantes recrutaram seus soldados.
Os soberanos hicsos da XV dinastia se mostravam egipcianizados, ou seja, procuraram absorver os usos e costumes egípcios. Eles usurparam monumentos que encontraram ao chegarem, gravando neles seus nomes, uma prática também adotada pelos verdadeiros faraós egípcios. Mostraram, também, uma grande predileção pelos escaravelhos, ou seja, essas pequenas peças de pedra na forma do inseto que serviam como selos e como amuletos. Formaram seus nomes reais seguindo a sistemática egípcia e, ao contrário do que Hatshepsut (c. 1473 a 1458 a.C.) afirmou quando mais tarde procurou difamar os soberanos estrangeiros, de nenhuma maneira menosprezaram o nome divino de Rá. A tomada do poder pelos estrangeiros quase nada mudou na vida do povo, já acostumado a pagar tributos aos faraós, aos templos e à administração. Se considerarmos que nessa época cessaram as grandes obras arquitetônicas e diminuiram as expedições em busca de ouro e pedras preciosas, aqueles que participavam de tais atividades a contra gosto provavelmente se sentiram melhor naquele momento do que na era de prosperidade anterior.
Após a submissão oficial do Egito, selada com o coroamento do hicso Salitis em Mênfis, nada mudou muito na administração do país. As verdadeiras cidades-Estado do Baixo Egito, governadas por mandatários locais, permaneceram na mesma situação. Os responsáveis eram agora em grande parte asiáticos que tinham a confiança do poder central. Esse conjunto de reizinhos formou a XVI dinastia que governou paralelamente com a XV. Como a esfera de influência dos hicsos se estendia até o sul da Palestina, eles não estabeleceram a capital em Mênfis, mas preferiram a cidade de Avaris, muito bem situada do ponto de vista estratégico entre o Egito e o istmo de Suez.
Enquanto isso, um território relativamente grande, entre Cusae ao norte e Elefantina ao sul, era administrado por príncipes tebanos, os quais, em última análise, eram os sucessores da XIII dinastia que haviam sido encurralados na direção do sul. Eles formaram a XVII dinastia (c. 1640 a 1550 a.C.). Surpreendentemente toda uma linhagem desses príncipes, ligados por laços de parentesco ou através de matrimônios às famílias dirigentes do Alto Egito, conseguiram manter o poder em Tebas, embora também tivessem que pagar tributos aos invasores. Após mais ou menos um século de domínio hicso, esta XVII dinastia tebana suscitou um movimento de revolta contra os reis de Avaris que, embora bem adaptados, não passavam de estrangeiros.
O faraó Kamósis (c. 1555 a 1550 a.C.) rebelou-se definitivamente contra a situação que dividia o Egito entre ele e o rei hicso Apophis, ao qual tinha que pagar tributos. Ele deve ter empurrado o inimigo para o norte, até o delta nilótico. Entretanto, a praça bem fortificada de Avaris, habilmente construída perto de um braço do Nilo em seu delta, não foi conquistada. A morte prematura de Kamósis teve por conseqüência a subida ao trono de seu irmão mais moço, Nebpehtire Amósis (c. 1550 a 1525 a.C.), que acabou por finalmente expulsar completamente os hicsos do Egito, ainda que isso lhe tenha consumido cerca de dez anos. Por ter unificado novamente o país, Manetho colocou-o como iniciador de uma nova dinastia, a XVIII (c. 1550 a 1307 a.C.), que principiou uma nova era, o Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.).
Existe quase um consenso, entre os arqueólogos, de que o Homo sapiens surgiu na África, entre 200 mil e 100 mil anos atrás. A maioria dos cientistas aceita que o início da diáspora foi pela costa do continente, local por onde chegariam até a península arábica. Mas uma série de descobertas arqueológicas pode redefinir essa visão.
Pesquisadores da Universidade de Birmingham (Inglaterra) descobriram artefatos de pedra em mais de cem sítios arqueológicos no Omã, país localizado a sudeste da Arábia Saudita. Estes objetos, segundo estimativas, datam de pelo menos 100 mil anos atrás, período no qual não deveria haver (segundo as teorias que prevalecem hoje) nenhum agrupamento humano fixo longe do litoral.
Essa descoberta muda a ideia de como os primitivos africanos teriam saído do continente pela primeira vez. Com essa descoberta, admite-se que talvez eles tenham migrado pelas quentes e áridas regiões do interior do norte africano e da península arábica, e não pelas áreas mais amenas da costa. Eles explicam que essa teoria sempre foi mais aceita por ser mais lógica, mas não há reais evidências arqueológicas disso.
Os artefatos teriam pertencido aos núbios, povo que originalmente habitava regiões próximas ao rio Nilo, no Egito. A partir de uma técnica que envolve radiação, conhecida como Luminescência Ótica Estimulada (OSL, na sigla em inglês), os artefatos foram datados com cerca de 106 mil anos de idade. A descoberta levanta um mistério sobre a trajetória dos humanos através do continente.
Uma pequena estátua de bronze – com aproximadamente 2 mil anos – sugere a existência de gladiadoras vitoriosas na Roma antiga.
A estatueta mostra uma mulher com os seios à mostra, vestindo apenas uma tanga e uma faixa em torno de seu joelho esquerdo. Seu cabelo é longo e arrumado, e, em pose altiva, levanta no ar o que o historiador Alfonso Manas, da Universidade de Granada, na Espanha, acredita ser uma sica – uma pequena espada curva amplamente utilizada pelos gladiadores.
O gesto dela representa uma “saudação ao povo”, ato feito somente por gladiadores vitoriosos no fim de suas lutas. E a mulher na estatueta olha para baixo, provavelmente para seu oponente caído. Segundo Manas, os detalhes tão precisos da estátua indicam que a representação foi inspirada por uma pessoa real, que realmente lutou na arena.
Ainda não se sabe exatamente onde a estátua foi encontrada, mas atualmente está sob o poder do Museu de Arte de Hamburgo, no norte da Alemanha. Se confirmada a tese do pesquisador espanhol, a estátua será a segunda representação de gladiadora encontrada até hoje.
Gladiadoras: cedo ou tarde demais para confirmar?
A raridade dessas estátuas, que mostram mulheres lutando ou em pose de luta, reflete a ideia que gladiadores mulheres eram poucas na Roma antiga.
Elas foram banidas pelo imperador Septimius Severus em 200 d.C. e, consequentemente, apenas uma dúzia de referências a elas sobreviveram nos escritos históricos antigos. A única outra representação das possíveis gladiadoras é uma relíquia de Halicarnassus, Grécia, que mostra duas mulheres batalhando.
De acordo com o pesquisador da Universidade de Granada, já houve descobertas de túmulos de gladiadoras, mas o fato não atraiu a atenção da maioria dos especialistas e pesquisas mais aprofundadas nunca foram feitas nesses locais.
Os opositores à teoria de Manas afirmam que a estátua representa uma atleta treinando com um strigil, pequeno objeto curvo bastante similar a uma espada. Contudo, Manas notou vários aspectos que sugerem o contrário.
Primeiro, a postura da mulher. Faria pouco sentido uma atleta olhar para o chão e levantar um instrumento no ar, além de que essa era a pose de vitória comum entre os gladiadores do mundo antigo.
O segundo ponto que Manas destaca é que as atletas do mundo romano não ficavam com os seios à mostra. “Usavam um tipo de biquíni ou uma túnica, que deixava aparecer apenas um seio, mas nunca os dois”, explica o historiador.
Gladiadores, contudo, eram escravos ou pessoas de baixo status social. Representá-los com os seios nus é, portanto, mais aceitável. E a faixa que ela usa em seu joelho também é marca registrada desses lutadores.
A historiadora Anna McCullough, da Universidade Estadual de Ohio, que já escreveu sobre gladiadoras, mas não tem relação com a pesquisa de Manas, é cautelosamente otimista sobre a identificação. “O gesto é muito mais similar ao gesto de vitória do que qualquer outro ato”, afirma McCullough. “Acho que realmente se parece com um gladiadora”.
Mas um problema potencial, na visão dela, é a ausência de elmo, protetores ou outras formas de armadura.
“A razão para sua nudez parcial talvez esteja na intenção de quem fez a representação artística, que queria enfatizar que o lutador era mulher e não homem”.
McCullough explica que, na realidade, gladiadoras usavam mais que tangas e faixas na arena. Sem as proteções e armaduras, os lutadores teriam sido mortos em grandes números.
“ Se os gladiadores morressem toda vez que lutassem na arena, seria um problema de difícil solução manter a população de gladiadores nas escolas”, ressalta a historiadora estadunidense. “Mas talvez ela tenha tirado o seu elmo para fazer o gesto da vitória; ou talvez o artista quisesse mostrar o cabelo dela. Talvez, ainda, ela tenha ido para a arena sem o elmo, para as pessoas verem seu rosto. E o escudo poderia estar na mão direita, que não está mais presente na estátua”, especula Manas.
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