OS EGÍPCIOS
História
Como assinalou o historiador grego Heródoto, no século V a.C., "O Egito é uma dádiva do Nilo." Desde os primeiros momentos de sua história, os egípcios criaram uma sociedade baseada no aproveitamento das águas do Nilo para a agricultura, mediante a construção de obras hidráulicas capazes de regular sua vazão anual. No plano institucional, configuraram um rígido e hierárquico sistema político que se manteve, com pequenas mudanças, durante cerca de três mil anos.
Arqueologia
Ao compararem as tradições do Egito com sua própria civilização, os gregos observaram que o passado tinha um grande papel no presente daquela cultura, enquanto a cultura grega era ainda nova e inexperiente. Ao conhecerem a terra dos faraós, os viajantes gregos ficaram maravilhados com as grandes cidades e seus templos. O Periegesis (Viagem ao redor do mundo), escrito por Hecateu de Mileto, perdeu-se. Heródoto, que também escreveu sobre o país após uma viagem de alguns meses, fundamentou grande parte de sua narrativa em informações errôneas de pessoas incultas. Melhores fontes foram utilizadas pelo sacerdote Mâneto, quando por volta de 240 a.C., escreveu as Aigyptiaka (Egípcias), obra em que relaciona as trinta dinastias do Egito faraônico. Foram os romanos que começaram a colecionar antiguidades egípcias. Estátuas de faraós e esfinges enfeitavam palácios dos imperadores romanos e diversos obeliscos foram transportados de Karnak (Tebas) e Heliópolis e posteriormente reerguidos em Roma e Constantinopla. Entre as obras dos últimos escritores clássicos destaca-se a descrição do Egito feita por Estrabão no Livro 17 de sua Geografia, que contém detalhes da topografia do delta. Plínio o Velho, em sua História natural, e Ptolomeu, em seu tratado geográfico, descreveram o Egito. Plutarco estudou a mitologia e Horapolon tentou decifrar os hieróglifos. A religião egípcia desapareceu com a difusão do cristianismo e o copta substituiu a escrita antiga. Mas a tradição da "sabedoria do Egito" atravessou a Idade Média e despertou interesse durante o Renascimento.
Inícios da moderna egiptologia
A visita de Napoleão ao Egito, em 1798, a descoberta da pedra de Rosetta e a decifração dos hieróglifos, pelo inglês Thomas Young e pelo francês Jean-François Champollion, proporcionaram material para estudos mais profundos sobre o passado do país, como os de John Gardner Wilkinson e Samuel Birch. Karl Richard Lepsius deu a conhecer ao mundo uma grande coleção de desenhos e cópias de inscrições. No mundo todo, diversos museus receberam numerosas doações de antiguidades feitas por viajantes. Entre os estudiosos que mais se destacaram em meados do século XIX estão C. W. Goodwin, Heinrich Karl Brugsch, Emmanuel de Rougé e Joseph Chabas. Em 1858, o governo egípcio implantou uma nova política de conservação de suas antiguidades, e nomeou Auguste-Edouard Mariette para esse trabalho. O governo fundou um museu em Bulaq, no Cairo, que mais tarde se tornaria o Museu Egípcio. As escavações empreendidas por Mariette, nas décadas de 1860 e 1870, principalmente em Gizé e Saqqara, forneceram material suficiente para suprir o museu com esculturas e antiguidades. Após a morte de Mariette, em 1881, o governo concedeu aos museus e instituições culturais o direito de escavações no país, com a condição de que a metade dos achados passasse a integrar o acervo do museu de Bulaq.
Escavações no século XX
Métodos revolucionários desenvolvidos por William Matthew Flinders Petrie permitiram uma mudança de atitude em relação às novas descobertas: o antigo sistema de somente descobrir monumentos e preservá-los foi substituído por escavações sistemáticas, com o objetivo de examinar e registrar cada objeto, ainda que insignificante ou fragmentado, e analisar as camadas de terra em que se encontravam. Esse método possibilitou levantar dados sobre a história dos lugares e de seus habitantes e também sobre a arte que desenvolviam, seus conhecimentos e sua vida cotidiana. A descoberta do túmulo de Tutankhamen, em 1922, aumentou o interesse pela egiptologia. O esvaziamento desse túmulo exigiu um trabalho de dez anos. Seus descobridores, Lord Carvarnon e Howard Carter, solicitaram a ajuda de diversos especialistas para a extração e preservação dos diversos tesouros que continha. O resultado foi que uma grande quantidade de jóias, armas, móveis e relicários transformaram o acervo do Museu Egípcio do Cairo em um dos mais valiosos do mundo. As primeiras décadas do século XX registraram diversas expedições financiadas pelos governos da França, Alemanha, Estados Unidos, Itália e Polônia, e por museus e instituições científicas. Petrie, Henry Edouard Naville, Francis Llewellyn Griffith, A. M. Blackman, Percy Edward Newberry e T. E. Peet são alguns estudiosos britânicos que trabalharam no Egito; também merecem destaque as escavações dos cientistas americanos George Reisner, em Gizé e na Núbia, e de H. E. Winlock, em Tebas. A descoberta do túmulo de Tutankhamen levantou inúmeras controvérsias, que levaram o governo do Egito a adotar medidas restritivas à saída de achados arqueológicos do país. Tal medida, ao desencorajar os museus estrangeiros, que não se dispunham a financiar projetos de que não se beneficiassem diretamente, fez com que os estudos se transferissem do plano da escavação para o do registro. Cabe salientar nessa área, as reproduções publicadas pelo Museu Metropolitano de Arte, de Nova York, e os volumes editados pelo Instituto Oriental da Universidade de Chicago. Desenvolveram-se então preciosos estudos de gabinete, como o dicionário de língua egípcia antiga, de Adolf Erman e H. Rank, e o trabalho de Kurt Sethe, todos alemães. Merecem citações ainda os trabalhos dos ingleses Sir Wallis Budge, F. L. Griffith e Alan Henderson Gardiner, e dos franceses H. Gauthier e G. Lefebvre.
Origens
Os muitos estudos de egiptologia revelaram que o povo egípcio antigo resultou da fusão de vários grupos de origem africana e asiática, e permitiram distinguir três tipos principais: um semítico dolicocéfalo, de estatura mediana; outro semítico-líbio, braquicéfalo, de nariz recurvado; e um terceiro, mediterrâneo, braquicéfalo, de nariz reto e curto. Da mistura desses grupos resultou um povo de lavradores, no vale do Nilo, que absorveu progressivamente os estrangeiros invasores. Até o século XIX, as únicas fontes utilizáveis sobre as dinastias do Egito eram os relatos dos autores clássicos, de épocas posteriores aos acontecimentos por eles descritos. Somente em 1821, com a decifração da escrita hieroglífica, por Champollion, é que se pôde proceder à leitura de inscrições, que iluminaram mais de três mil anos da história da humanidade. O período histórico da civilização egípcia começou por volta de 4000 a.C. Os primitivos clãs haviam sido transformados em províncias ou nomos, e seus chefes elevados à dignidade real. Mais tarde foram agrupados em dois grandes reinos: um ao norte, cujo primeiro rei-deus foi Horus, e outro ao sul, que teve Set como primeiro rei-deus. Por volta do ano 3300 a.C., segundo a tradição, o reino do sul venceu o do norte. Quando as dinastias humanas sucederam às dinastias divinas, Menés, personagem lendário e apontado como unificador do Egito, se tornou o primeiro faraó. A capital era, segundo alguns autores, Mênfis, e segundo outros, Tinis, nas proximidades de Abidos. Menés é identificado como Narmeza (Narmer), representado, num relevo de Hieracômpolis, com as duas coroas dos reinos unificados.
Dinastias
As escavações realizadas em Abidos, Saqqara e localidades próximas trouxeram informações sobre as primeiras dinastias, denominadas tinitas por terem a capital em Tinis. Neste período houve um aumento da prosperidade econômica do país, incrementado pelas expedições à costa do mar Vermelho e às minas de cobre e turquesa do Sinai. Com a III dinastia, iniciada em 2650 a.C., a capital foi trasladada para Mênfis e os faraós iniciaram a construção das pirâmides, grandes túmulos reais. Inicia-se então o chamado Antigo Império, que vai até a VIII dinastia. Erguem-se as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, faraós da IV dinastia, e a esfinge de Gizé. A arte egípcia já se apresentava com todas as suas características, nessa época de maior esplendor da civilização egípcia. O território se estendeu até a segunda catarata do Nilo, e realizaram-se expedições à Núbia e à Líbia. Aumentou o comércio marítimo no Mediterrâneo oriental e se iniciou a exploração das minas de cobre do Sinai, das pedreiras de Assuã e do deserto núbio. A VI dinastia realizou expedições à península do Sinai e sob Pepi II multiplicaram-se as imunidades concedidas aos nobres. Os chefes dos nomos se tornaram mais independentes e desapareceu o poder centralizador do faraó. Após longa fase de lutas internas, que marcaram o fim do Antigo Império, o Egito entrou em decadência. No século XXII a.C., os príncipes de Tebas afirmaram sua independência e fundaram a XI dinastia, dos Mentuhoep, dando início ao Médio Império, que durou de 1938 a c. 1600 a.C., com capital em Tebas. Restaurou-se e consolidou-se o poder real. Sobressaíram na XII dinastia, também tebana, Amenemés I, Sesóstris I e Amenemés III, que colonizaram a Núbia e o Sudão, intensificaram o comércio e as relações diplomáticas e fizeram respeitar as fronteiras egípcias. O segundo período intermediário, que abrange da XIII à XVII dinastia, entre c. 1630 e 1540 a.C., é de história obscura. Por falta de fontes é impossível analisar o conjunto de causas determinantes da decadência do estado tebano. Sob a XIV dinastia ocorreu a invasão dos hicsos. Os monarcas da XVII dinastia abriram luta contra eles e ferimentos encontrados na múmia de Seqenenre parecem indicar sua morte em combate. Ahmés ou Ahmose I assumiu o comando, expulsou definitivamente os hicsos e fundou a XVIII dinastia. Iniciou-se então o mais brilhante período da história egípcia, o chamado Novo Império, entre 1539 e 1075 a.C., que abrange também a XIX, a XX e a XXI dinastias. Como grandes conquistadores, sobressaíram Tutmés I e III, da XVIII dinastia, Ramsés II (XIX dinastia), Ramsés III (XX dinastia) e Iknaton, Akenaton ou Amenhotep IV (XVIII dinastia), por sua reforma religiosa. Após cerca de trinta anos de paz interna, o Egito, rico e forte, pôde entregar-se às novas tendências imperialistas. Tornou-se um estado essencialmente militar e por 200 anos dominou o mundo então conhecido. Alargaram-se as fronteiras do país, da Núbia até o Eufrates. Os príncipes da Síria, Palestina, Fenícia, Arábia e Etiópia pagaram-lhe tributos. O tratado firmado em 1278 a.C. com Hattusilis III terminou com a secular guerra com os hititas. O luxo e o poder econômico refletiram-se nas grandes construções desse período. Com Ramsés XI findou o Novo Império. Rebentaram guerras civis e o Egito entrou em decadência, perdeu territórios e sofreu invasões. Por volta de 722-715 a.C., uma dinastia etiópica, com capital em Napata, restaurou parcialmente a unidade nacional. Em 667 a.C., Assaradão invadiu o Egito e ocupou Mênfis. Em 664 a.C., Assurbanipal tomou e saqueou Tebas. Os egípcios, comandados pelos chefes do delta, reagiram e em 660 a.C., Psamético I, fundador da XXVI dinastia, expulsou os assírios. O Egito voltou a conhecer nova fase de esplendor, chamada de renascimento saítico, devido ao nome de sua capital, Saís. Em 605 a.C., Necau II tentou conquistar a Síria, mas foi derrotado por Nabucodonosor. Em seu governo concluiu-se o canal de ligação entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho e, sob seus auspícios, marinheiros fenícios contornaram a África. Em 525 a.C., o último soberano nacional egípcio, Psamético III, foi derrotado e morto por Cambises, rei dos persas, em Pelusa. O Egito foi incorporado ao império persa como uma de suas províncias (satrapia). A partir de então, até Artaxerxes II, reinou a XXVII dinastia persa. A organização social e religiosa foi mantida e registrou-se certo desenvolvimento econômico. A libertação do Egito se deu em 404 a.C. Com Armiteu, único faraó da XXVIII dinastia, a aristocracia militar do delta subiu ao poder. As instituições e a cultura revigoraram-se sob as XXIX e XXX dinastias. Depois de saquear o país, Artaxerxes III restaurou a soberania persa, em 343 a.C. O segundo período da dominação persa terminou em 332 a.C., quando Alexandre o Grande da Macedônia, vitorioso, entrou no Egito, após derrotar Dario III.
Período macedônio ou ptolomaico
Nesse período, que vai até o ano 30 a.C., Alexandre foi recebido como libertador e fez-se reconhecer como "filho de Amon", sucessor dos faraós, prometendo respeitar as instituições e restaurar a paz, a ordem e a economia. Lançou as fundações da cidade de Alexandria. Com sua morte em 323 a.C., o controle do Egito passou a um de seus generais, Ptolomeu, que a partir de 305 a.C. iniciou a dinastia dos lágidas. Dentre seus herdeiros destacaram-se, inicialmente, Ptolomeu Filadelfo, cujo reinado durou de 285 a 246 a.C. e se notabilizou pela expansão comercial, a construção de cidades, e a criação de um museu e da biblioteca de Alexandria; sucedeu-lhe Ptolomeu Evérgetes, que reinou de 246 a 222 a.C. e impulsionou as letras e a arquitetura; e finalmente Ptolomeu Epífano, coroado em 196 a.C., que foi homenageado com a redação do decreto da pedra de Rosetta, em 204 a.C. Atacado por reinos helenísticos, o Egito colocou-se sob proteção romana, com submissão cada vez maior. Seguiram-se vários e cruéis reinados dos lágidas, até Ptolomeu Auletes que, com apoio romano, permaneceu no poder até 51 a.C., quando foi expulso pelos egípcios. Sua filha Cleópatra VII desfez-se, sucessivamente, de dois irmãos e apoiou-se no imperador romano Júlio César. Com a morte deste, em 44 a.C., ligou-se a Marco Antônio, mas diante da derrota frente às esquadras romanas, e do assassinato, ordenado por Otávio, do jovem Ptolomeu César, filho que tivera com César, suicidou-se em 30 a.C. O Egito foi então transformado em província romana. Soberanos de direito divino e culto imperial, os lágidas restauraram os templos, honraram a classe sacerdotal e entregaram a administração aos gregos. Alexandria, cidade grega por suas origens, comércio e cultura, foi o centro intelectual e comercial do mundo helenístico.
Período romano-bizantino
Em 30 a.C., iniciou-se o período romano-bizantino. A minoria romana conservou a organização da época helenística, com base nos nomos (províncias). O camponês era esmagado por altos impostos e requisições. A indústria e o comércio, que deixaram de ser monopólio estatal, ganharam impulso e atingiram as mais distantes regiões. A passagem dos romanos foi marcada ainda pela construção de estradas, templos, teatros, cisternas, obras de irrigação e cidades. Uma destas foi Antinópolis, construída por Adriano. No final do século II da era cristã generalizaram-se os ataques nômades às fronteiras (Líbia, Etiópia, Palmira) e as perseguições ligadas à expansão do cristianismo. Após Constantino, começam as disputas religiosas. Em 451 a adesão da igreja alexandrina ao monofisismo levou à formação de uma igreja copta, distinta da grega, e dessa forma o que era tido como heresia, por força das perseguições imperiais, transformou-se na religião nacional egípcia. Com a divisão do Império Romano verificou-se uma progressiva substituição de Alexandria por Constantinopla em importância cultural e econômica. No século VI o declínio econômico era generalizado em todos os setores. E no início do século VII os árabes foram recebidos como autênticos libertadores.
Período medieval
Época árabe. No ano 640, com a conquista do Egito pelos árabes, começou a era medieval, que durou até 1798. O período árabe caracterizou-se por lutas internas e constante troca de emires. A difusão do árabe e do islamismo transformou a invasão muçulmana na mais importante de todas as que o Egito sofreu. De sua história restou o copta, designação apenas religiosa. A princípio o Egito foi transformado em uma província do califado dos omíadas, de Damasco, que transferiram a capital para al-Fustat, construída nas imediações da fortaleza da Babilônia, erguida pelos romanos, no lugar hoje ocupado pela cidade velha do Cairo. Os omíadas conservaram o sistema administrativo egípcio e seus funcionários, mas o governo era exercido por um emir, auxiliado por um amil, ou diretor de finanças. O processo de islamização reacelerou com os abássidas, de Bagdá, cujo poder, no entanto, enfraqueceu ao longo do século IX.
Época independente
Este período corresponde a quatro dinastias, entre 868 e 1517: os tulúnidas, os ikhchiditas, os fatímidas e os aiúbidas. Compreende ainda um domínio por parte dos mamelucos. A dinastia dos tulúnidas dominou de 868 a 905 e foi fundada pelo oficial turco Ahmad ibn Tulun, que proclamou a independência do país em relação a Bagdá. Os ikhchiditas governaram independentemente entre 939 e 968, depois de um breve retorno a Bagdá. Entretanto, um novo poder militar agressivo, oriundo da Tunísia, se apoderou do Egito, sob a família dos fatímidas, que se consideravam descendentes do califa Ali e de Fátima, filha de Maomé. Adeptos da doutrina xiita, governaram entre 969 e 1171. Uma nova capital foi fundada, al-Qahira (Cairo) em 988, e o Egito, organizado como califado, passou a usufruir de notável desenvolvimento econômico e cultural. Foi fundada a mesquita e a universidade de al-Azhar, em 970, e o tesouro dos califas passou a incluir a mais valiosa biblioteca do mundo muçulmano da época. As disputas internas possibilitaram a intervenção do sultão de Damasco, Nur-al-Din, por intermédio do general Shirgu e de seu sobrinho Saladino (Sala al-Din Yusuf ibn Ayyub). Este, feito vizir em 1169, proclamou-se sultão do Egito logo após a morte do califa, dando início à dinastia dos aiúbidas, que reinaram de 1171 a 1250, e destacaram-se como grandes administradores. Reconstituíram um grande estado, da Tripolitânia à Mesopotâmia, dedicaram-se à agricultura de irrigação, ao comércio, às obras militares, à construção de escolas, hospitais e mesquitas. Lutaram contra os cruzados na Palestina, porém lutas internas minaram o poder. A crescente influência de oficiais mamelucos (conjunto de diferentes etnias, tais como turcos, mongóis, curdos etc.), tornou-se preponderante. Uma milícia de mamelucos bahri, isto é, "do rio", tomou o poder em 1250 sob o comando de Izz al-Din Ayback. Os sultões mamelucos imperaram no Egito até 1517. Embora o período fosse de paz e prosperidade econômica, ocorreram tremendas perseguições a judeus e cristãos. Com os mamelucos, cessou qualquer sucessão hereditária e o sultão passou a ser eleito pelos emires, o que caracterizou uma verdadeira oligarquia feudal-militar.
Domínio otomano
Em 1517 Selim I derrotou o último sultão mameluco, Tuman-bei, e iniciou o período de domínio turco, caracterizado por tirania e instabilidade. No século XVIII o paxá era figura decorativa e sucediam-se as lutas pelo poder entre os beis. Foi nessas condições que Napoleão Bonaparte conquistou o Egito, em 1798, na batalha das Pirâmides.
Período moderno
A ocupação francesa durou apenas três anos, até 1801, mas teve conseqüências importantes. Seguiram-se importantes reformas públicas e empreendimentos culturais que sacudiram o país do torpor medieval e o levaram à modernização. Marco desse período foi a fundação do Instituto do Egito e, mais tarde, a publicação dos trabalhos realizados por seus membros: Description de l'Egypte (1809-1828; Descrição do Egito) espécie de enciclopédia que despertou grande interesse na Europa. Turcos e mamelucos, divididos em facções rivais, ficaram no Egito após a saída dos franceses. Os choques eram atenuados pela presença britânica, até 1803. O hábil chefe albanês Mohamed Ali aproveitou-se das oportunidades com inteligência e crueldade e massacrou os mamelucos em duas oportunidades: 1805 e 1811. Déspota e centralizador, procurou a modernização do país. Numa guerra que se prolongou até 1818, conquistou a Arábia e lutou contra os uaabitas; entre 1820 e 1823 conquistou o Sudão; entre 1823 e 1827 empreendeu campanha contra a Grécia; e entre 1831 e 1841 lutou sem êxito para conquistar a Síria, mas conseguiu ter reconhecido o direito ao governo hereditário do Egito, logo estendido ao Sudão. Em 1849 seu neto Abbas Hilmi, fanático e negligente, assumiu o poder, expulsou os franceses que colaboraram com a administração e reagiu contra a obra do avô, exceto no estatismo econômico. A situação só se modificou quando o filho mais moço de Mohamed Ali, Said, deu continuidade à obra paterna e, entre 1854 e 1863, trouxe de volta os colaboradores estrangeiros, suprimiu monopólios econômicos e, apesar da oposição dos ingleses, autorizou o início da construção do canal de Suez. A obra de modernização foi interrompida em 1875, com a derrocada financeira e a venda de ações do canal de Suez, compradas pelo Reino Unido por quatro milhões de libras. O país estava sob a responsabilidade de Ismail, sobrinho de Said. Diante da situação, em 1878 o governo foi obrigado a incluir no gabinete dois controladores-gerais de finanças, um inglês e um francês. Em 1879, por imposição das potências estrangeiras, Ismail foi deposto e para seu lugar indicado o sultão quediva Tawfic, que restabeleceu o domínio franco-inglês. Pressões nacionalistas se sucederam, lideradas por militares e, em 1882, uma demonstração naval franco-britânica diante de Alexandria precipitou a reação popular. Os franceses se retiraram, mas os ingleses bombardearam Alexandria sob o pretexto de "defesa dos súditos e dos bens estrangeiros e cristãos". Em julho de 1882 as tropas desembarcaram, e foram bem recebidas pelo quediva.
Ocupação britânica
A ocupação do Egito pelos ingleses deveria ser temporária, mas se prolongou até 1914. A França era hostil à ocupação, até que em 1904, por um acordo assinado em Marrocos, o país renunciou a seus direitos. Internamente sucediam-se as trocas de quedivas. Os ingleses nomearam um cônsul-geral e interferiam na vida do país como se este fosse uma autêntica colônia. O Egito foi relegado à condição de mero fornecedor de matéria-prima, o algodão, para a indústria inglesa. Despertado o nacionalismo egípcio, as reações tornaram-se constantes. A primeira guerra mundial veio provocar uma mudança no regime. Em 18 de dezembro de 1914, o Reino Unido decretou o protetorado do Egito e anunciou o fim da suserania otomana. Abbas II foi destituído, por aderir aos turcos. Terminada a guerra, os egípcios, sob a liderança de Zaghlul, exigiram que seu país tivesse autonomia e constituíram uma delegação (wafd) para negociar em Londres as condições da independência. A oposição inglesa provocou reações. Zaghlul foi detido e deportado (1919). Entretanto, em março de 1922 uma declaração do Reino Unido reconheceu a independência do Egito, com algumas condições, como a manutenção do controle britânico sobre o canal de Suez, e a 15 de março Fuad tornou-se rei do Egito.
Egito independente
O processo de emancipação avançou lentamente, mas acelerou-se após a segunda guerra mundial, quando uma revolução nacionalista, em 1952, depôs a monarquia. A declaração do Reino Unido, unilateral, reconhecera o Egito como estado soberano, mas reservara quatro pontos a serem resolvidos por acordo: o direito de linhas de comunicação com seu império; a proteção dos estrangeiros e das minorias do país; a defesa militar do Egito; o domínio inglês sobre o Sudão. A partir de 1928, Fuad I desentendeu-se repetidamente com o Wafd (agora um partido nacional), liderado por Zaghlul, e em 1930 instaurou um regime de exceção. Em 1936 subiu ao trono Faruk I e o Wafd ganhou as eleições. O domínio italiano na Abissínia veio acelerar o acordo entre a corte egípcia e o Wafd, que se cindiu em dois grupos. Sob pretexto de ameaça de guerra, os britânicos conservaram suas tropas no Egito, como "aliadas". Durante a segunda guerra, na qual o Egito se transformou em campo de batalha entre britânicos e alemães, aqueles ampliaram sua influência, impondo Nahhas paxá como primeiro-ministro. O regime se enfraquecia dia a dia, situação que se agravou com os problemas econômicos e sociais do pós-guerra. No plano interno o Egito manobrou ativamente pela constituição da Liga Árabe, por sua participação na Organização das Nações Unidas e pela luta contra o recém-criado Estado de Israel (1948), que levou ao armistício imposto pela ONU em 1949. A agitação antibritânica chegou ao máximo em janeiro de 1952, quando a agitação social promovida pela Irmandade Muçulmana desembocou no golpe de 1952, liderado pelo general Mohamed Naguib. O rei Faruk abdicou e em fevereiro de 1953 Naguib tornou-se ditador.
República
A 18 de junho de 1953 foi proclamada a república, com Naguib na presidência, apoiado pelo líder Gamal Abdel Nasser. Em 1954, Nasser liderou um conflito contra seu ex-aliado e saiu vencedor. Naguib foi deposto e Nasser assumiu o governo. Após a aprovação plebiscitária da constituição de 1956, Nasser foi eleito presidente pela assembléia nacional e confirmado no cargo pelo voto popular, com grande soma de poderes. O novo governo lançou-se a uma política de modernização das estruturas econômicas, sociais e militares do país. Em 1956 os Estados Unidos retiraram a oferta de financiamento da represa de Assuã. Como resposta, o Egito nacionalizou o canal de Suez. Tal medida provocou intervenção militar da França, Reino Unido e Israel, terminada com mediação da ONU. Depois da efêmera união com a Síria na República Árabe Unida (1958-1961), presidida por Nasser, este reforçou os vínculos com a União Soviética. A constituição de 1964 adotou para o país o regime democrático e socialista, e um plebiscito realizado em 1965 confirmou Nasser na presidência. As disputas entre os países árabes e Israel se intensificaram e agravaram-se em 1967, quando a aviação israelense, entre 5 e 8 de junho, destruiu grande parte da força aérea egípcia, na chamada guerra dos seis dias, enquanto tropas de terra ocupavam a faixa de Gaza e toda a península do Sinai, às margens do canal de Suez. A intervenção da ONU fez cessar o conflito. Nasser assumiu a responsabilidade pela derrota e renunciou, mas um amplo movimento popular o manteve no poder. Com a morte de Nasser, em 28 de setembro de 1970, assumiu o vice-presidente Anwar al-Sadat, que no ano seguinte afastou os nasseristas de esquerda, procurou com habilidade neutralizar os árabes mais radicais, como o coronel Kadafi, da Líbia, e o presidente da Síria, Hafez al-Assad. Tentou a formação de uma Federação das Repúblicas Árabes, mas o projeto não se concretizou. Em 1976, anulou o tratado de amizade e cooperação com a União Soviética, firmado em 1971, e que deveria se prolongar por 15 anos. A iniciativa da guerra de 1973, contra Israel, e seu desempenho à frente das forças egípcias, deram a Sadat prestígio e autoridade para empreender uma nova política, de paz com Israel, reaproximação com o Ocidente e desenvolvimento nacional. A 19 de novembro de 1977, foi recebido festivamente pelos israelenses em Jerusalém, onde cumpriu, segundo suas próprias palavras, uma "sagrada missão de paz". Essa iniciativa teve vários desdobramentos: conversações no Cairo; uma conferência de cúpula entre Sadat, o primeiro-ministro israelense Menahem Begin e o presidente americano Jimmy Carter nos Estados Unidos; e os acordos de Camp David. Denunciados pelos demais países árabes e pela Organização para Libertação da Palestina (OLP), mas ratificados pelos governos do Egito e de Israel, esses acordos constituíram a base do tratado de 1979, que deu aos dirigentes egípcio e israelense o Prêmio Nobel da paz de 1978. Em 1981, Sadat fez um extenso expurgo nas fileiras da oposição política e religiosa. A 6 de outubro foi assassinado por militares radicais. O vice-presidente Hosni Mubarak assumiu o cargo e iniciou uma política de reconciliação interna. Em 1982, depois de conseguir a devolução do Sinai -- em poder de Israel desde a guerra de 1967 -- nos termos do acordo de Camp David, Mubarak distanciou-se de Israel e voltou a se aproximar da União Soviética e dos países árabes. Consumada a invasão do Kuwait pelo Iraque (agosto de 1990), o Egito teve atuação destacada no conflito pelo qual o território kuwaitiano foi libertado no começo do ano seguinte.
Cultura
Malgrado a herança das antigas civilizações que ocuparam seu território, o Egito faz parte do mundo cultural árabe-islâmico. O estado promove a cultura por meio do Instituto do Egito, fundado em 1859, sobre a base de um instituto criado por Napoleão, e da Academia de Língua Árabe, fundada em 1932. Outras instituições, também sob administração do Ministério da Cultura, se dedicam ao fomento das artes, letras e ciências. Diversos museus conservam o rico patrimônio cultural legado pela antiga civilização.
Arte
A tradição árabe, com influências ocidentais e peculiaridades autóctones, determinaram as manifestações artísticas do Egito moderno. O campo da música, na segunda metade do século XX, recebeu incentivos governamentais com vistas a um retorno a suas raízes tradicionais. O estilo ocidental adaptado à personalidade egípcia marcou as composições de Yusuf Greiss e Abu Bakr Jariat. O retorno ao folclore se manifestou também nas demais artes, com destaque para a dança, a pintura e as atividades artesanais. Os temas melodramáticos e a mensagem nacionalista marcaram a produção cinematográfica egípcia. Após a nacionalização do cinema egípcio, em 1963, prevaleceu um estilo realista, orientado para os problemas sociais da vida no campo e do trabalhador urbano
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