No Cemitério do Avareí, em Jacareí, há muitas histórias. Uma delas é sobre uma senhora dona de escravos que era muito ruim com eles. Geniosa e ciumenta, costumava molestar as escravas que eram bonitas. Tinha por prática deixar cicatrizes nas negras ou, então, lhes queimar os seios. Em alguns relatos consta, ainda, que mandava amarrar os escravos em árvores que ficassem próximas ao rio Paraíba, para apavorá-los com o medo de serem comidos pelos jacarés. Seu túmulo possui uma imagem que, dizem, se apertar o dedo dela, mostra a língua.
Ainda no Avareí, aconteceu um fato inusitado: havia perto do cemitério um botequim. Os boêmios da região tomavam conta e deixavam o local sempre cheio. Certo dia, um dos frequentadores, ao sair de casa para o costumeiro programa, disse à sua mulher que iria trazer um cabrito para ela cozinhar (ele já estava de olho no bicho, que corria solto, há alguns dias). A mulher resolveu, então, ajudar o marido na empreitada. À noitinha, ficou escondida próxima ao portão do cemitério. Um dos outros frequentadores do bar estava voltando para casa, quando passou pelo portão e viu um vulto se movimentando e assustou-se. Saiu correndo antes de perceber que era uma mulher, tão assustada quanto ele. O sujeito voltou para o bar à procura de um corajoso que voltasse com ele para procurar o tal vulto. Ninguém se atreveu, a não ser um companheiro que, por infortúnio, não tinha as pernas. O sujeito, prontamente colocou o companheiro nas costas, partindo para a aventura. A mulher, que aguardava o marido, viu na penumbra a imagem de um homem carregando algo nas costas, achando que era o marido, murmurou: “Está vivo?”, pensando no cabrito. O homem saiu correndo e gritando e pouco se importando com seu mais recente companheiro de aventura.
Quando se menciona histórias populares, a maioria das pessoas se lembra de histórias de mistério, assombração, mas há tantas e tão belas histórias de amores encantados que é impossível não contar uma também. Aqui no Vale do Paraíba, na cidade de Lavrinhas, conta-se a seguinte história: entre 1880 e 1887, uma santa esculpida em madeira, a famosa santa do pau oco, aquela que tinha um espaço oco onde se podia guardar desde documentos importantes até contrabandear ouro e era muito comum no Brasil Colônia, apareceu na casa de um colono no bairro da Capela do Jacu. A santa não foi aceita pela Igreja, porque o padre considerou a imagem imperfeita e assim não foi colocada no altar da igreja de Pinheiros, na época, sede do município.
Resolveu-se então erguer uma capela na residência de uma tradicional família local, o Sobradão, e assim a família passou a rezar o terço em louvor da santa.
Pois bem, era costume da época os pais arrumarem os noivos para suas filhas, e foi o que aconteceu com Ana Etelvina. O pai da moça trouxe de Portugal um noivo, porém ela gostava de outro. Mas, mesmo assim, foi tratado o casamento.
Ana Etelvina tinha uma mucama que rezava diariamente por intenção de Nossa Senhora dos Pobres para que fosse desfeito aquele noivado. No dia do enlace, com Ana Etelvina já pronta com a vestimenta de noiva e o noivo esperando no altar com todos os convidados, o pai da noiva entrou no quarto para conduzi-la à igreja e admirou-se com a beleza da filha. A moça então lhe confidenciou que preferia estar morta a realizar aquele casamento. O pai, numa atitude totalmente inesperada, decidiu cancelar o casamento. Dizem que quando ele avisou para todos na igreja a sua decisão, o noivo com vergonha fugiu de lá.
Após alguns anos, Ana Etelvina veio a se casar com aquele do qual gostava, José Avelino da Silveira. O fato foi atribuído à um milagre de Nossa Senhora dos Pobres. Ouviu-se na época que a santa era a autora de vários milagres na região.
Quando o Sobradão foi desmanchado, a imagem foi doada por Sebastião Novaes para a igreja local, em 1980. Foi então que Sônia Regina Bolos, bisneta de Ana Etelvina, encontrou a imagem da santa jogada nos fundos da igreja, fez um pedido à Cúria solicitando a imagem, mas lhe foi negado. Depois de alguns anos, segundo ela, um padre que por lá passou trocou a imagem com ela por dois sacos de cal e uma brocha. Ela então teria doado a imagem para uma prima, dona de uma escola em São Paulo e a tal prima mandou a imagem para a USP, a fim de ser restaurada. Perdeu o contato com esta parenta e nunca mais soube nada da Nossa Senhora dos Pobres.
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